‘Coisas inacreditáveis estão acontecendo’

julho 1, 2022

O diretor Ary Coslov comemora 60 anos de carreira com peça que trata da barbárie humana na 2ª Guerra

Ary Coslov está na lista dos principais diretores de teatro e TV do país. Com 60 anos dedicados ao ofício,  esse carioca – de ascendência russa por parte de pai e alemã por parte de mãe –, já colocou sua marca em novelas inesquecíveis como os remakes de  “Irmãos Coragem” (1995) e “Guerra dos Sexos” (2013), seriados como “Presença de Anita” (2001) e “A Grande Família” (2002); além de espetáculos como “Traição”, de Harold Pinter (2008-2011), vencedor dos prêmios Shell e APTR.

Após uma pausa nos trabalhos, por conta da pandemia, Ary Coslov volta à cena teatral com mais uma pérola, “O Homem do Planeta Auschwitz”, que estreia nesta sexta-feira (1º) em curtíssima temporada no Teatro Laura Alvim, em Ipanema, Zona Sul do Rio.

A peça conta a história do escritor polonês Yehiel De-Nur (Mario Borges), sobrevivente do campo de extermínio em Auschwitz, e do seu possível encontro com a filósofa Hannah Arendt, interpretada por Susanna Kruger. Yehiel foi testemunha do julgamento de Adolf Eichmann, um dos carrascos mais violentos de Hitler, responsável por Auschwitz. Este julgamento, que Arendt cobriu para a revista New Yorker, é o que levou-a a criar o conceito de “banalidade do mal”, nos anos 1960.

– Nasci ainda no final da 2ª Guerra Mundial e só comecei a tomar conhecimento mesmo das coisas que aconteceram a partir da minha juventude, quando comecei a ver nos filmes e nos livros tudo o que tinha acontecido aos judeus, sempre com aquela reação de espanto e incredulidade, pelo fato de eu ser judeu – relembra ao NEW MAG o diretor, que cita alguns exemplos dos cuidados que sua família tinha naquela época: – Eu me lembro vagamente, devia ter uns 2 anos, que morávamos em uma casa na Tijuca e meu pai colocava feltro preto nas janelas, porque havia um exercício de defesa para possíveis ataques nazistas aqui no Brasil, no Rio de Janeiro.

Com o novo trabalho, Ary espera não deixar que as pessoas se esqueçam dos acontecimentos do passado e evitar que essas barbáries se repitam no futuro, embora enxergue movimentos preocupantes em alguns grupos atuais.

– Hoje em dia, a gente está vendo surpreendentemente manifestações tão fortes de grupos fascistas, de governos de direita, coisas que nunca pensamos que pudessem se repetir, ligadas a esse tipo de comportamento de extrema direita, extremamente conservador, populista – destaca Ary, reafirmando a importância de abordar o assunto nas artes de uma forma geral: – A peça é muito importante porque ela serve, não só para dizer às pessoas que não podemos esquecer o que aconteceu na 2ª Guerra Mundial, mas também chamar a atenção, já que isso pode se repetir de alguma maneira, coisas inacreditáveis que estão acontecendo à nossa volta.

Atento desde muito novo ao comportamento do ser humano e dono de uma curiosidade superaguçada, Ary conta que sempre direcionou seus trabalhos para a conscientização do público.

– A gente tem um papel importante, que é o de formar as pessoas. Não é só emocionar, mas fazer pensar. Como diretor, eu sempre procuro buscar elementos que ajudem a pessoa a pensar na vida, nos seus sentimentos, para tentar entender o que são os sentimentos do ser humano e como temos que nos comportar na vida, que é tão curta.

Crédito da imagem: divulgação/TV Brasil

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