
Francis Hime escreveu seu nome numa página (muito) feliz da nossa História. Autor de obras-primas da MPB e arranjador de outras tantas que ajudou a imortalizar, ele celebrou 60 anos de carreira com um feito histórico. Ele reuniu oito talentos da nossa música, na noite do último domingo, no show de lançamento de seu mais novo álbum, “Não navego pra chegar” (Biscoito Fino). E dividiu o palco do Vivo Rio, no Rio de Janeiro, com Simone, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Zé Renato, Zélia Duncan, Mônica Salmaso, DJ Zé Pedro e com Olívia Hime, ela também diretora do espetáculo.
Zé Pedro aqueceu as turbinas num set com versões eletrônicas para clássicos do grande compositor. E o avião alçou voo com Francis abrindo os trabalhos com “Baiãozão” seguida por “E se?”, uma das magistrais parcerias com Chico Buarque numa leva que contou ainda com “Pivete”, num sinal aberto a outras tantas parcerias da dupla que seriam ouvidas ali.
A primeira convidada a dar o ar da graça foi Mônica Salmaso, a quem coube a missão de apresentar a canção-título do novo trabalho de Francis. Ao número, a cantora emendou sua apresentação magistral para “Passaredo” (outra parceria com Chico) abrindo alas para uma série de outros números antológicos que deram à noite a aura histórica que a presença de tantos talentos prometia.
E apresentações sentidas e pungentes não faltaram. Assim foi com “Atrás da porta” na voz quente de Zélia Duncan; “Trocando em miúdos”com Olívia Hime; “Minha” (com Ruy Guerra) por Ivan Lins; “Sem mais adeus” (com Vinicius de Moraes) na voz de Leila; “A noiva da cidade” (outra com Chico) com Zé Renato e “Existe um céu”, na voz de uma emocionada Simone, que interpretou os versos de Geraldo Carneiro com acentuada delicadeza.
O poeta e imortal estava na plateia, assim como duas grandes damas das nossas artes: a cantora e compositora Joyce Moreno e Fernanda Montenegro, a quem Francis agradeceu do palco a presença.
Uma noite com tamanhos talentos merecia um grand finale, e ele se deu com “Vai passar”, samba-enredo de Francis e Chico (olha ele aí de novo) lançado para celebrar o rumo do país à liberdade após um período de “tenebrosas transações”.
A alegria poderia até ser fugaz, como reza a letra, não importava. Por aquele palco – e por aquela noite – passaram sambas imortais. E nem foi preciso clamar a Deus para ver de perto aquela gente a cantar. Se existe um Céu, de lá Ele desceu para curtir essa festa.
Créditos: Christovam de Chevalier (texto), Cristina Granato e Ricardo Nunes (imagens)