Memórias, emoção e reverência vão tomar conta do palco. No dia 07 de junho estreia a peça “Ruth & Léa”, uma homenagem potente a duas das maiores atrizes da cultura negra brasileira: Ruth de Souza (1921–2019) e Léa Garcia (1933–2023). Com Bárbara Reis e Ivy Souza nos papéis principais, o espetáculo, que entrará em cartaz no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, celebra não apenas as trajetórias individuais dessas artistas, mas também tantas outras figuras negras fundamentais que ajudaram a construir a história da dramaturgia brasileira.
A direção é de Luiz Antonio Pilar, indicado ao Emmy Internacional pelo remake de 2006 da novela “Sinhá moça”, da TV Globo, e vencedor do Prêmio Shell de Teatro como Melhor Direção em “Leci Brandão, na palma da mão”. Ele relembra que a ideia de fazer o espetáculo surgiu em 2003, a pedido de Ruth:
— A Ruth me chamou à casa dela, era um sábado. Chegando lá, encontrei a Léa também, e nós dois não sabíamos que iríamos nos ver. Ruth então me disse: “Todo mundo acha que somos inimigas, mas não somos. São eles que nos colocam nessa posição, porque nos oferecem pouquíssimas coisas. Eu queria muito fazer uma peça com a Léa, sob a sua direção”.
No enredo, duas atrizes — Zezé e Elisa, referências a Zezé Motta e Elisa Lucinda — se reúnem no primeiro ensaio de um filme musical sobre Ruth e Léa. Em meio a figurinos inspirados no escultor Emanoel Araújo e sob o olhar de uma pianista ao vivo, elas refletem sobre o legado dessas pioneiras, seus desafios, sonhos e conquistas.
Para Bárbara, que volta ao teatro após sete anos e reencontra Pilar, com quem trabalhou em “Todas as flores”, o processo tem sido intenso e transformador.
— Agora, no teatro, tenho adquirido um novo olhar a partir do olhar cênico dele, com a liberdade de arriscar e até ser ridícula. É um olhar generoso, que faz toda a diferença. O maior desafio tem sido conter minha energia para dar vida à Ruth, que era mais contida do que eu. Mas é um misto de euforia e realização. Nada se constrói sozinho — diz a atriz, destacando também a forte conexão criada com Ivy em cena.
Ivy, que conheceu Léa em 2019, não esconde a emoção de homenagear a atriz no teatro.
— Sempre tive profunda admiração por ela. Como atriz negra, entendo o quanto Ruth e Léa mobilizaram coisas incríveis com tão poucas oportunidades. E fico pensando: qual futuro estamos plantando agora? Para um artista negro exercer sua arte como ofício, é preciso suporte e rede — reflete.
Créditos das imagens: divulgação (alto) e Fernando Macedo
