Em matéria de comédia, ele não deixa a peteca cair. Nunca deixou, aliás. Já na primeira pergunta, ao ouvir a palavra streaming, ele rebate sem pestanejar: “estremece o quê?”. Coisa de craque. E, nessa partida, Renato Aragão é gênio. Patrimônio vivo da TV brasileira, ele vai completar 90 anos em janeiro. E dá, nesta entrevista exclusiva ao NEW MAG, mostras de que está atento às mudanças pelas quais o mundo passa, tanto em termos tecnológicos quanto nos âmbitos comportamentais. E, sob alguns aspectos, é taxativo. “Temos de nos respeitar uns aos outros”, reconhece o criador do Didi, personagem que tem lugar cativo na memória afetiva de milhões de brasileiros. Nesta conversa, realizada de forma presencial numa livraria no Rio de Janeiro, e acompanhada por sua mulher e empresária, Lilian Aragão, Renato fala de planos para o futuro, de longevidade, sobre a nova temporada do musical “Os Saltimbancos Trapalhões” e de como vê o futuro do humor. “Sempre vão aparecer comediantes”, atesta ele com a sabedoria somente facultada aos grandes mestres.
O streaming te atrai? O senhor tem interesse de estabelecer parcerias com esses canais?
Sim, tenho. Há, inclusive, um projeto de filme em andamento sobre o qual não posso adiantar nada ainda.
O senhor tem planos de voltar aos palcos como aconteceu na montagem teatral de Os Saltimbancos?
Sim, esse projeto deve voltar no ano que vem. Uma nova temporada está prevista para meados de 2025 em São Paulo.
E como foi labutar no teatro do alto de 80 anos?
Foi muito prazeroso. Eu procurava estar em cena sempre que possível. E o pique foi puxado, pois o número de sessões era grande. Em um final de semana, eram seis apresentações, com vesperal aos sábados e domingos. É muito puxado e muito gratificante também.
Há uma série de iniciativas em curso para valorizar o artista mais experiente. Como o senhor vê essas campanhas?
A gente vê hoje falarem de 70+, 80+, tudo mais. Acho tudo isso importante contanto que seja possível a pessoa se expressar de forma plena. Ao longo da minha trajetória, sempre estive caminhando, pulando e saltando. Estagnação não combina comigo. Sempre estive ativo, agradecendo às pessoas, indo de um lugar para o outro, dentro de um esquema, com uma infraestrutura que me possibilitou fazer tudo isso.
E, pelo jeito, vai se manter assim…
As pessoas têm de entender que a longevidade vai hoje até os 100 anos. A pessoa estando lúcida e ativa, pode muito bem trabalhar. Por que não?
O Ary Fontoura se reinventou nas redes sociais. O senhor também chegou ao instagram na pandemia…
Eu aposto mais do que posto…
Foi difícil se familiarizar com essa nova mídia?
Fiz as postagens na pandemia, quando estávamos em casa, isolados de tudo. Acabou ficando cômodo, mas foi algo com que fui me acostumando aos poucos. Estava acostumado com aquele esquema de TV e não havia feito nada tão caseiro antes. Demorei um pouco a entender esse “estar à vontade” que dita as postagens na internet.
E como o senhor vê o futuro do humor?
O humor não acaba nunca. Sempre vão aparecer comediantes, de ambos os sexos e gêneros, e é muito bom que seja assim.
Como é a questão do politicamente correto para o senhor?
Os tempos e as épocas mudam. Temos de nos respeitar uns aos outros. O humor tem na brincadeira uma de suas ferramentas, mas essa brincadeira precisa ser praticada com respeito.
Em uma entrevista para a TV, o senhor se pendurou em uma barra de ginástica colocando-se de cabeça para baixo e disse que via o mundo daquela perspectiva. Continua assim?
(Renato ri) Sob esse aspecto, não mudei nada. Continuo gostando de ver o mundo dessa forma.
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