Na canção “Tudo que você podia ser”, que abre o clássico álbum “Clube da esquina”, de 1972, Lô e Márcio Borges escrevem sobre os sonhos de um personagem e o que ele queria, podia, devia e conseguiria ser. Tal reflexão caberia muito bem para explicar o mote da peça “Dentro do adversário”, que está em cartaz na Casa Slamb, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, de sábado a segunda.
É que a trama escrita por Leo Lama e baseada no livro “O adversário”, do francês Emmanuel Carrère, narra a história de um homem que engana a família e os amigos por décadas, afirmando ser um médico empregado pela Organização Mundial da Saúde. Na verdade, o protagonista passava as tardes dentro de um carro e aplicava golpes para sobreviver.
— A gente escuta mais casos no Brasil e no mundo de como as pessoas não conseguem lidar com os fracassos. Na última cena, há um texto muito aberto que fala de humanidade, do que não conseguimos decifrar em nós e no outro. Este é o grande mistério. O que pode realmente nos levar à loucura? Quando que eu deixo de ser? — reflete o ator Alex Slama, que encena o monólogo, e entrega um spoiler do texto, citando uma fala: — e se pudéssemos dizer que nos momentos mais insanos, estávamos na verdade possuídos por um demônio. Aí seria mais fácil, não seria?
Quando o personagem tem a sua farsa revelada, a tragédia se forma e culmina em um múltiplo assassinato. Carrère escreveu o seu livro a partir de uma história real ocorrida na França, em 1993. Ao fim da apresentação, a diretora Bia Szvat e o ator ainda abrem uma roda de conversa com a plateia no teatro intimista, com 35 lugares.
Além dos já citados, o time da montagem conta ainda com nomes como César Pivetti no desenho de luz, Cesar Rezende no cenário, Fábio Cintra na direção musical e Henrique Sauer na percussão.
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