‘Não tenho arrependimento nenhum’

outubro 25, 2024

Boninho, que já pertence ao rol dos grandes nomes da TV brasileira, fala sobre seus grandes mestres, sua atuação nas redes, o futuro da TV e o seu próprio após 40 anos na Globo

Como ele mesmo gosta de dizer, José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, cresceu jogando bola de gude nos corredores da TV Globo. Filho do grande executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que colocou a emissora não apenas no topo da indústria no Brasil, mas também no mapa mundial, ele poderia ter trilhado muitos caminhos, mas não resistiu aos encantos da Vênus Platinada e fez, daquele seu lugar de brincadeira, o tapete vermelho de sua própria história. De programas infantis, como o “TV Colosso”, até realities shows, como o “Big Brother Brasil”, passando por variedades como o “É de casa” e o “Estrelas”, Boninho se tornou o grande Midas da Globo, transformando em ouro tudo o que tocava. Alçou o matinal “Encontro” a um lugar de destaque, deu mais fôlego para o “Mais você” e introduziu no país realities como “No limite”, “Hipertensão” e o próprio BBB, um dos maiores sucessos da Globo. O currículo é extenso e inclui também alguns fracassos, mas nada que abale a força de Boninho na TV brasileira. Mesmo assim, após 40 anos na Globo, ele decidiu partir. No último 13 de setembro,  anunciou sua saída (ele fica na emissora até dezembro). E o fez através de outro veículo que também aprendeu a dominar: as redes sociais. “Chegou a hora de voar solo”, escreveu ele, com seriedade, na mídia que também usa para mostrar o homem por trás do diretor. A seguir, Boninho conversa sobre a influência de seu pai, o futuro da televisão e dos realities no Brasil, a desconstrução do “Big Boss” no Instagram e os planos para o futuro.

Você é filho do grande Boni e conseguiu fazer sua própria história. Aprendeu muito com ele? Ele foi seu grande mestre? 

Na verdade, eu tive milhões de mestres, tive muitos padrinhos. Tive meu pai, tive o Roberto Talma, que foi uma pessoa muito importante para mim, Paulo Ubiratan, Fausto Silva… Tenho muitos mestres. Eu praticamente nasci na televisão e sempre escolhi essa profissão. Desde o início já sabia que eu ia trabalhar com isso e enfrentei uma barra porque sou o filho do Boni, que é uma marca muito grande. Mas eu acho que consegui trilhar meu caminho. E se você quer entrar nisso, trabalhe muito, esse é o único segredo para você conseguir sucesso.

Os realities shows ganharam um impulso inacreditável no Brasil pelas suas mãos. Na sua opinião, qual é o futuro desse formato? 

Esse formato tem um fôlego enorme porque ele pode ser feito de várias maneiras. Você pode usar vários temas. Então o reality veio pra ficar. É um formato que está presente.  O “Big Brother” está aí, sendo um fenômeno de audiência, é um dos maiores do mundo. E o reality era um produto que estava muito desacreditado no começo, então acho que essa marca ainda está presente. O reality chegou para ficar e se eu tivesse ouvido as críticas ao BBB 1 eu não teria feito o 2 e assim por diante. Mas eu vou trazer mais coisa! O reality é um projeto que você pode fazer de absolutamente tudo: de comida, de namoro, de levar a sogra, de casal, de verdade, de mentira.  O reality de esporte funciona também e, sim, dentro do meu pacote de surpresas tem um reality de esportes.  Se você tiver um conceito com bom desenvolvimento, dá para fazer milhões de realities…

Entre tantas coisas que você produziu na TV Globo, qual o seu maior orgulho? Algum arrependimento? 

Eu não tenho arrependimento nenhum, eu me divirto com tudo o que faço. E o BBB é um programa que tá entregue em boas mãos.

A Ana Furtado saiu da Globo e está com um novo programa no Youtube. Acha que esse é o futuro da comunicação? 

O futuro da comunicação é você usar qualquer janela. Então a Ana tem, por exemplo, o programa no YouTube. Ela está usando esse meio. O segredo é você falar com todo mundo. O BBB é um superexemplo disso. Nada atrapalha ninguém, a multijanela vai ser cada vez mais produtiva e provavelmente a TV 3.0 vai vir para colaborar com essa loucura de poder falar com várias telas ao mesmo tempo.

Como vê o futuro da televisão?

Depende da televisão, estamos falando da TV brasileira que acho que é muito diferenciada das outras televisões do mundo inteiro. A TV brasileira é uma máquina muito grande. Apesar de você ter outros meios de trabalhar, assistir com streaming e YouTube, e todos esses canais. A forma em que a TV brasileira foi construída, ela continua muito forte e ainda tem muito fôlego pela frente. O brasileiro é um apaixonado por televisão, ainda. É lógico que hoje em dia temos que olhar 360º, temos que falar com todo mundo,  não dá para você pensar só em um produto que fica num nicho. Estamos falando de conteúdos, e o conteúdo pode ser jornalismo, dramaturgia, reality, show,  mas o que precisamos ver é qualidade. Então não adianta. Para falar com muita gente você tem que ter um produto de qualidade. Um exemplo disso foi a mininovela da Netflix que está sendo falada no mundo inteiro, um projeto só com ex-Globos, mas é um projeto bom, que fala com todo mundo. Então não adianta achar que um produto vai falar com todo mundo se ele não tiver qualidade, que é fundamental.  Por exemplo, não tem como brigar com um jogo Corinthians x Flamengo porque tem conteúdo, tem torcida e não tem como escapar dessa audiência.

Nos últimos anos, você tem se mostrado mais nas redes sociais…

A Ana me ajudou muito e, aos poucos, fui me soltando. Sou um cara brincalhão e, ao mesmo tempo, as redes sociais me ajudaram muito a dividir as coisas. Principalmente num reality como o “Big Brother”, todo mundo quer participar, e eu virei um canal de troca. Aquele monstro que dominava os participantes foi se destruindo e acabou virando uma outra personalidade, que é na verdade quem eu sou de verdade, que não tem nada a ver com aquele personagem que eu criei lá atrás. O mais difícil foi conseguir quebrar esse gelo, e as pessoas entenderem que aquele Boss que controlava o Big Brother não sou eu de verdade.

E teve o registro de marca do Big Boss… 

O registro de marca foi uma decisão, um pedido da TV Globo lá atrás, que eles não poderiam entrar com  registro, porque é personalismo, eu sou o Big Boss. Há dois anos algumas marcas estavam usando a marca Big Boss, então eu entrei para defender a marca porque eu poderia, e a TV Globo não. O meu apelido continua sendo Big Boss, isso eles não conseguem me tomar. Mas de qualquer forma, jamais faria um programa com o Big Boss. Isso só foi feito para que o mercado não utilize indevidamente uma marca que é muito forte.

No seu Instagram, você mostra que ama cozinhar. O que mais você gosta de fazer para relaxar, desanuviar do dia a dia no trabalho? 

Qualquer coisa, assistir televisão já é relaxar pra mim.

O que o Boninho de hoje falaria para o Boninho de 40 anos atrás, começando na Globo? 

Continue trabalhando!

A Folha de São Paulo publicou que você está montando uma nova produtora com Júlio Casares. Quais seus projetos pós Globo? Envolvem também a TV Vanguarda? 

A TV Vanguarda não, porque a TV Vanguarda é da TV Globo. Meus novos projetos? São projetos! Eu já fiz de tudo. Já fiz dramaturgia, reality, show… Vou continuar a fazer essas coisas e estou trabalhando em projetos. Já trabalhei também com esportes. É difícil achar o que eu não fiz na televisão. Mas eu não pretendo abrir meu próprio canal. Principalmente hoje em dia, você tem um espaço enorme que pode dividir e justamente porque você não tem mais exclusividade.  E ao contrário, o mercado necessita de conteúdo, cada vez mais com essas janelas todas, precisamos de mais conteúdo. A Netflix quer conteúdo, a Amazon quer conteúdo, o SBT quer conteúdo.  Não acho que eu precise abrir um canal porque a diversão está aí. O Cazé TV é quase uma réplica da televisão, só que é feito pelo YouTube, mas o objetivo deles é trabalhar na compra de esportes, então tem um conceito ali por trás muito específico.

Crédito da imagem: Reprodução Instagram

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