Antonio Adolfo estava começando na profissão quando conheceu Sérgio Mendes no Beco das Garrafas, conjunto de pequenas casas que se tornaria lendário como um dos berços da bossa nova. Sergio e seu trio tocavam no Bottle’s Bar e, anos depois, ele ajudaria a uma das canções de Adolfo a se tornar conhecida internacionalmente. O tema em questão é a hoje clássica “Sá Marina”, uma das parcerias do grande pianista com Tibério Gaspar (1943-2017).
Outro projeto de Mendes marcaria Antonio Adolfo: o álbum “Você ainda não ouviu nada”. Gravado juntamente com o Sexteto Bossa Rio, o LP trazia simplesmente arranjos de Tom Jobim (1927-1994), Moacir Santos (1926-2006) e do próprio Mendes. Procurado por NEW MAG, Antonio Adolfo aponta a algumas características que fazem de Mendes, que faleceu nesta sexta-feira (06), único no seu ofício.
– Contratado pelo Itamaraty, o Sérgio fez turnês com o grupo Brasil 65 tendo como convidados a (violonista) Rosinha de Valença, Jorge Ben (hoje Ben Jor), Wanda Sá e o Chico Batera na bateria e o Tião Neto, no contrabaixo. Com isso ele começou a abrir caminho nos Estados Unidos – rememora Adolfo destacando um encontro que mudou a vida de Mendes: – Em seguida, ele fez uma apresentação para o Herb Albert já com o Brasil 66, que viria a estourar com “Mas que nada”.
E, com isso, Mendes apuraria ainda mais os ouvidos às novidades produzidas pelos amigos no Brasil. E foi assim que se encantou com Sá Marina, que lançaria em 1969, originalmente num compacto simples e, pouco depois, incluída no álbum “Pretty world” (mundo bonito), como reconhece o arranjador:
– Tive a sorte de ter “Sá Marina” gravada por ele em 1969, lançada inicialmente num compacto simples. Essa gravação abriu caminho total para mim no exterior e nos Estados Unidos, principalmente.
Adolfo e Mendes trocavam mensagens religiosamente em fevereiro, mês em que fazem aniversário. No último mês, chegou a falar com a mulher do amigo, a cantora Graça Leporace, que o poupou sobre o estado de saúde do marido, cujo óbito foi em consequência de complicações pulmonares.
– O Sérgio nunca deitou nos louros da fama e sempre trabalhou muito, gravando ou viajando com shows. Ele era um pianista excelente, de muito bom gosto e um desbravador, que lançou muita gente no exterior e merece todo o carinho e respeito dos brasileiros – arremata Antonio Adolfo.
Crédito da imagem: Cristina Granato