Como veio ao mundo

julho 13, 2024

O ator e diretor Igor Angelkorte fala sobre nudez e espiritualidade em seu primeiro monólogo

Há pelo menos dez anos que o ator e diretor Igor Angelkorte vinha buscando um texto para montar seu primeiro monólogo. Mas nem imaginava que, na verdade, ele seria escolhido por Sidarta. Personagem do livro do escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1946. O encontro inusitado entre os dois acabou acontecendo despretensiosamente num sebo no Rio de Janeiro. A estreia do espetáculo é neste final de semana, no Teatro Sede Cia dos Atores. A peça ambientada na Índia, tem classificação 18 anos, e é um convite irrecusável para um mergulho dentro de si mesmo.

— Esse livro me saltou os olhos na prateleira, ouvia muito sobre ele. Depois de lê-lo, imediatamente comecei uma trajetória de buscar uma fuga, uma saída. O Rio estava se tornando uma cidade intragável para mim. Foi na mesma época em que Marielle Franco foi assassinada  — conta Igor.

Assim como Sidarta, o personagem do livro, Igor começa uma jornada, a partir de dores existenciais lancinantes. E muitas vezes o faziam querer desistir até mesmo da própria vida. O ator partiu naquele ano (2018), em busca de autoconhecimento. O foco era aprender novas formas de se relacionar com o mundo e consigo mesmo. Trabalhando com teatro, transitou entre quilombos e comunidades pelo Brasil, que lhe abriram as portas generosamente para uma troca mútua.

— Foi num ritmo intenso e fluido de consciência política que acabei descobrindo a minha espiritualidade. A peça nasce de muitos encontros com mestres que não permaneceram comigo, assim como aconteceu com Sidarta. Passei um bom tempo sozinho, brincante e interno na Chapada dos Veadeiros, em Cavalcante (GO), onde tenho casa. Estudando o livro entre pássaros, rios, silêncio e o caos da mata — revela o ator.

O espetáculo, que é totalmente minimalista, traz Igor isento de figurino no palco. Ou seja, ele se apresenta nu, como veio ao mundo. E pela primeira vez, Igor fala abertamente sobre a nudez artística que propõe ao personagem Sidarta. Um jovem que tem o mesmo nome de Buda (Siddhartha Gautama), porém se rebela contra a hierarquia bramanista, rejeitando confortos materiais do palácio de seu pai.

— A nudez neste caso foi totalmente intuitiva para mim. Não encontrei vestes ou tecidos, que pudessem representar a vulnerabilidade que me encontro como ator nesse momento. Realizando um trabalho tão esperado. A jornada do personagem é tão profunda, que só pude dar mesmo minha própria carne. Com isto, quero ampliar a nossa capacidade de se sentir livre, nudez também é reflexão —  ressalta Igor.

Crédito das imagens: Philipp Lavra
O ator e diretor Igor Angelkorte na pele de Sidarta, personagem do livro de Hermann Hesse

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