‘As guerras serão mais sangrentas’

junho 9, 2024

O fotógrafo Gabriel Chaim lança livro sobre os dez anos em que cobre guerras pelo mundo e fala sobre o futuro da humanidade

O fotógrafo Robert Capa (1913-1954) revelou ao mundo os horrores das guerras que cobriu como correspondente. Ele tinha, para tanto, uma câmera e (muita) coragem. O Brasil tem o seu Capa, e o nome dele é Gabriel Chaim. Fotógrafo e documentarista laureado com dois Emmy – e com imagens nos mais importantes museus do planeta – ele acompanhou conflitos os mais importantes (e perigosos) ao longo dos últimos dez anos. O que ele testemunhou está agora reunido no livro “10 anos de guerras sem fim” (Vento Leste), que ele lança nesta segunda-feira (10), na Livraria da Travessa de Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Desde que eclodiu o conflito entre Rússia e Ucrânia, o rosto de Gabriel passou a ser visto com certa frequência no noticiário. Narrar fatos em meio a escombros é uma realidade comum na atividade que escolheu. Mesmo calejado, uma imagem o impressiona sempre: depara-se com crianças mortas. Essas recordações visitam-no de quando em quando

–  As cenas de crianças mortas ficam guardadas em algum lugar do meu subconsciente. Uma pergunta recorrente é sobre o quanto isso me assombra. De alguma forma eu tenho uma chavezinha imaginária que aciono e que me faz guardar essas imagens brutais em algum lugar… mas, sempre que preciso, elas reaparecem de alguma forma. São como fantasmas adormecidos – conta ele ao NEW MAG.

Em fevereiro, cobrindo um conflito na Síria, Gabriel quase foi atingido por um foguete. O artefato acabou alvejando dois militares e um fotógrafo italiano. Essa foi apenas uma das incontáveis vezes em que o correspondente viu a cara da morte bem de perto, como ele rememora:

–  As vezes de quase ter morrido foram muitas, uma vez que decidi cobrir das linhas de frente, me colocando em risco absoluto. Em fevereiro de 2019, na Síria, foi a última. Fiquei seis meses cobrindo a operação contra o ISIS (sigla para Estado Islâmico do Iraque e da Síria) em seu último bastidão. No dia 25 de fevereiro, um insurgente lançou um RPG (lançador de foguete) que passou a 30cm da minha cabeça e acertou um soldado logo atrás de mim, o comandante e um colega fotógrafo italiano. O foguete era para mim, já que estava na frente dessa casa de dois andares. Vi o fogo do foguete passando na frente dos meus olhos e ajudei a resgatar os corpos depois do ataque.

Há espalhados pelo mundo mais de dez conflitos humanitários em cursos, em regiões do Oriente Médio, Ásia e da África. Talvez este último responda pelo maior número, com conflitos em países como Etiópia e Sudão do Sul, além dos provocados por militantes islâmicos. Para Gabriel, há guerras que interessam mais a opinião pública e, enquanto houver sede por soberania, as guerras serão parte de nosso cotidiano:

– Enquanto existir a busca por poder, as guerras existirão. Mas vivemos em um mundo das guerras que interessam mais, e outras que não interessam de forma alguma, mas são tão brutais quanto. Estamos passando por um processo de cegueira globalizada, onde, para acabar com seu oponente vale tudo, e isso é feito ao vivo. As guerras futuras serão mais sangrentas, pois os exemplos de hoje estão criando os monstros de amanhã.

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