São seis décadas de carreira. E, ao longo desse tempo, Nívea Maria mostrou a atriz que é – e o grande público é testemunha disso. A atriz, com uma extensa folha de serviços prestados à teledramaturgia, nos dá mais uma oportunidade de mostrar, no teatro, a grande profissional que é. Bissexta nos palcos, Nívea é “Norma”, papel título da peça na qual divide a cena com Reiner Cadete e que estreou no Teatro das Artes, Rio de Janeiro, neste fim de semana após bem-sucedida temporada em São Paulo.
Norma é uma mulher conservadora, que, ao perder o filho, Rogério, num acidente de carro, precisa reconciliar-se com as diferenças entre eles. E uma delas diz respeito à orientação sexual do jovem. Rogéria era gay, e esse acerto de contas se dá com um ex-companheiro dele, Renato, interpretado por Reiner.
A personagem é rica em nuances e nenhuma delas é desperdiçada por Nívea, que valoriza cada fala com a mesma maestria com que respeita as pausas e os silêncios daquela mãe. E, neste Dia das Mães, a atriz conta ao NEW MAG como foi a construção da personagem.
– Quando a gente tem certa experiência na carreira de atriz, já tendo criado vários personagens, e quando a gente tem certa vivência e maturidade, por ter vivido várias situações e observado o comportamento das pessoas no passar dos anos, com as ideias mudando, a gente tem mais facilidade para encarar uma personagem tão complexa. Mais do que complexa; rica de dados e comportamento – reconhece ela,, dividindo os louros com o diretor e com seu colega de cena: – É claro que a direção do (Guilherme) Piva ajudou muito e dividir essa experiência com o Reiner, que traz essa jovialidade da nova geração, colabora para fazermos esse espetáculo que tem essa modernidade no assunto que discute.
Sendo reencenado 22 anos após a montagem original, estrelada por Ana Lúcia Torre e Eduardo Moscovis, “Norma” continua atual num país onde o número de mortes de homossexuais aumentou 33% desde 2021. Para Nívea o público reconhece-se nos personagens e atesta a relevância dos temas tratados em cena:
– O espetáculo é muito atual e importante por falar de divergências e de preconceitos. Ele é uma mala cheia de informações. Pegamos tudo isso e colocamos nas atuações e no palco, para o público. E ele embarca conosco nesse redemoinho de emoções.
Sempre discreta no trato e reservada em relação à vida pessoal, Nívea aponta as diferenças entre ela e essa mãe austera. Uma delas está na empatia, necessária para ouvir e se colocar no lugar do outro, como ela conta:
– Sempre fui mais liberal e aberta do que a Norma. Nunca fui rígida em relação a regras e pensamentos. Sempre ouvi e respeitei muito o outro e isso me aproxima mais do personagem do Reiner. A Norma é realmente muito fechada, e o espetáculo mostra exatamente isso: como precisamos do outro para aprender, ensinar e para trocar.
E com Nívea dando-se por inteiro no palco, essa troca é inevitável. E os aplausos que irrompem ao fim de cada sessão são prova disso. Brava!
Crédito da imagem: Leo Aversa