Ela é dona de um dos mais belos timbres da música brasileira. Trata-se de uma voz que, ao ser ouvida, não deixa dúvidas a respeito de sua origem. Suas gravações embalaram casais no país inteiro, das grandes capitais aos rincões. Estamos falando de Joanna, ou, para os íntimos, Maria de Fátima Gomes Nogueira, cantora e mulher que, este ano, celebra 45 anos de uma trajetória das mais ricas da nossa música.
E as celebrações serão no palco (hoje ela faz duas apresentações no Blue Note Rio), do Brasil e do exterior, e com o projeto “Joanna e elas”, no qual vai dividir os vocais com talentos das novas gerações. Esse olhar tem um quê de revisionista, afinal, como compositora, Joanna ajudou – juntamente com Joyce e Fátima Guedes – a sociedade a olhar para aquela mulher que, assim como o próprio país, (re)nasceu das cinzas após as trevas da ditadura.
– Somos maioria num país altamente machista, mas, os passos têm sido dados aos poucos, e vamos conquistando novos horizontes cada vez mais. Nós, artistas, temos uma arma poderosa que é a palavra, e a palavra cantada tem um poder incomensurável: nasce nas pessoas através da necessidade que elas têm de ter seu próprio grito. Ela ajuda, ela modifica, ela cura! Hoje, o mercado está mais abrangente, e a voz masculina não prepondera tanto quanto antes.
Joanna tinha 23 anos quando participou do hoje histórico “Mulher 80”, especial exibido no fim daquele ano pela TV Globo. A artista foi a única das 12 participantes a se acompanhar, ao violão, no seu número musical. A canção escolhida foi “Seu corpo”, de Roberto e Erasmo Carlos, gravada por ela no seu LP de estreia, “Nascente”, lançado um ano antes. O tema deixava claro que o romantismo seria uma das marcas da artista, presente ao longo dessas mais de quatro décadas de carreira.
– Nunca me arrependerei de cantar o que cantei, pois isso me fez ver o quão minha música faz parte da história das pessoas. Toda canção que alcança o coração de todos é porque ela tem uma identidade popular de extrema importância! Ser popular não significa ser ruim. O preço de fazer a minha canção é o de ser, depois de 45 anos, uma artista respeitada aqui e fora do Brasil, com milhares de álbuns vendidos, e realizada em quase todos os âmbitos da minha vida.
Sim, as vendas dos álbuns – entre LPs, CDs e DVDs – chegam à casa dos 18 milhões. Tanta popularidade pôde ser medida pelas aparições da artista na TV, em programas como o “Globo de Ouro” e o “Cassino do Chacrinha”, a mais democrática das atrações de TV de todos os tempos. Indagada se a TV teria ficado mais etarista, a cantora avalia as transformações pelas quais o veículo passou nas últimas décadas:
– Gostava mais dos programas ao vivo, sem script ou clichês, como era o do Chacrinha. Acho que era verdadeiramente mais democrático. Era uma mistura de todos os estilos onde cada um podia se expressar como convinha. Com o advento da internet, as pessoas começaram a ter seus próprios canais, a comunicação ficou mais rápida, e a TV aberta esvaziou um pouco. Quanto ao etarismo, antiguidade é posto. Enquanto a sabedoria advinda do tempo puder ser percebida, a idade não importa!
E o que ela diria hoje, aos 67 anos, àquela Joanna que, empunhando seu violão preciso, corajosamente soltou a voz naquele “Mulher 80”…
– Faria tudo de novo, com a mesma obstinação! Como dizia Gonzaguinha: começaria tudo outra vez se preciso fosse. Só sei fazer isso e acho que consegui fazer bem feito.
E conseguiu mesmo. E esses 45 anos de carreira são prova disso.
Crédito da imagem: Washington Possato