Quando o país resgatava seu processo de redemocratização, uma marca de moda trouxe à vida cultural carioca ares de modernidade e elegância. Estamos falando de Frankie & Amaury, criada pela dupla de estilistas Frankie Mackey (1952-2012) e Amaury Veras (1951-2004) no início dos anos 1980. A grife volta ao mercado para marcar os 45 anos de sua criação e terá sua história contada em livro e no cinema.
A responsável pelo relançamento é Renata Veras, sobrinha de Amaury Veras e herdeira da marca. A empresária volta ao Brasil após uma temporada na Espanha e lançará as peças de forma gradual. Os primeiros itens serão as mochilas – uma delas a Carla, sucesso de vendas ao longo da trajetória da grife – e cuja campanha publicitária traz três modelos ligadas à marca: Alexia Dechamps, Fátima Muniz Freire e Sílvia Pfeifer. O lançamento acontece no dia 30 deste mês na Pinga, a multimarcas de Catharina Tamborindeguy Johannpetter.
A grife terá também sua história contada em livro pelo jornalista Alexandre Schnabl, especialista no segmento de moda no qual atua há 42 anos. A partir da obra será criado o roteiro para um filme a ser dirigido por José Henrique Fonseca para a Netflix.
– A marca foi criada na virada de 1979 para os anos 1980 e passou pelo final da ditadura, pela abertura política que culminou na Nova República e, em termos de comportamento, pela passagem da disco music para a onda new wave, seguida pela ascensão do rock Brasil – elenca Schnabl, também diretor criativo da marca, que destaca um paradigma importante trazido pela dupla: – Eles tiram o couro dos segmentos western e dos motoqueiros e o levam para o high society. Eles inserem o couro na moda de forma irreverente e divertida, como foram o rock Brasil e a new wave, e isso foi algo único.
Foi uma época de inovações, muito glamour e também de loucuras. E um episódio trágico marcou o fim da marca. Em 2004, Amaury Veras foi encontrado morto no apartamento onde vivia no Arpoador, Zona Sul da cidade. A hipótese de suicídio foi derrubada pela investigação, que constatou o assassinato. E a principal suspeita era Mackey, então companheiro e sócio do estilista. Frankie, cujo verdadeiro nome era Francisco Augustin Mackey, ficou foragido da Justiça ao longo de dez anos até sua morte ser anunciada, a partir do atestado de óbito apresentado por sua defesa, em 2012, quando seu julgamento iria a júri popular.
O crime e seus desdobramentos serão abordados por Schnabl, que já iniciou as entrevistas. Uma das personagens ouvidas será a irmã de Frankie, Evelina, em Rosário, Argentina, terra natal da família. Mas a ideia do autor não é a de um livro policial e sim a de relatar a trajetória da marca em paralelo ao período histórico no qual ela esteve inserida:
– Esse formato da dupla de criadores, que veio a marcar os anos 1990 no mundo, foi introduzido por eles no Brasil. Frankie e o Amaury já vinham trabalhando em dupla ao longo dos anos 1980 e vieram antes de duplas como Viktor & Rolf e Dolce & Gabbana, que estouram a partir do trabalho com a Madonna.
O apogeu da marca teve um desfecho trágico, mas está também inserido em mudanças pelas quais o mundo passa a partir do novo milênio. E o jornalista quer abordar também a efervescência da vida cultural no Rio de Janeiro até então.
– O final da marca em 2004 se dá no início do novo milênio, quando há um arrefecimento do Rio como um polo lançador de comportamento. Essas mudanças culminam em 2001, com a queda das Torres Gêmeas (em Nova York). Vou tratar do fim desse Rio Babilônia, que tem a ver com uma série de transformações pelas quais a cidade e o mundo passaram na virada do século.
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