Damas da palavra

fevereiro 23, 2024

Livro com cartas entre Neide Archanjo e Betty Milan revela como as escritoras forjaram seus estilos

Neide Archanjo (1940-2022) é um dos maiores nomes da poesia brasileira do século XX. E é, juntamente com Cecília Meireles (1901-1964), uma das maiores vozes femininas da nossa poesia. Neide morreu em janeiro de 2022 totalmente esquecida pela imprensa especializada, por seus contemporâneos e sem ser apontada como referência pelas novas gerações, que parecem só ter olhos para Ana Cristina Cesar (1952-1983) e Ana Martins Marques.

Neide está esquecida, mas um livro revelador pode fazer com que voltemos as atenções à sua pungente obra. Ainda não é a merecida reunião de sua poesia, mas uma seleta das cartas trocadas com aquela que é a mais importante de suas interlocutoras na literatura: Betty Milan, autora de 27 títulos e membro da Academia Paulista de Letras.

“Amantes da palavra – Correspondência literária” (Ibis Libris) reúne cartas trocadas entre as duas escritoras durante dez anos, num período que vai de 1982 a 1992. A coletânea chega às livrarias no fim deste mês e já cumpre um importante papel ao trazer à baila cartas trocadas entre escritoras mulheres, num movimento importante iniciado com “Ana C” (IMS), edição da correspondência de Ana Cristina Cesar com amigas escritoras como a hoje imortal Heloísa Teixeira (ex-Buarque de Hollanda) e a socióloga Maria Cecília Fonseca, entre outras.

–  Betty Milan me disse que sem Neide ela não existiria. Foi a construção desta amizade que as forjou, tanto ela quanto Neide. A beleza das cartas mostra ao público como essa amizade as moldou, como elas cresceram como autoras e mulheres – explica a poeta Thereza Christina Rocque da Motta, responsável pela edição.

O lançamento, no próximo domingo (25), na Blooks de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, terá parte das missivas lidas pelas atrizes Luciana Lyra e Ana Cecília Costa, a Morena de “Renascer”. Ana Cecília tornou-se amiga de Neide, de cuja poesia era fã., e tem um solo criado a partir do livro “Pequeno oratório do Poeta para o Anjo”, de 1997.

E o evento tem tudo para ser emocionante. Afinal, como reza um dos poemas do supracitado oratório, “Era a Beleza\ e parecia ser a Beleza\Era a Beleza”.

 

Posts recentes

Palco em páginas

Isabel Fillardis estreia como escritora com o lançamento da sua autobiografia

Um doce para o olhar

Exposição do fotógrafo Slim Aarons chega a São Paulo com imagens de momentos da vida da alta sociedade dos anos 1960 e 1970

Despedida difícil

Morre Mario Sérgio Celidônio, filho do aclamado chef José Hugo Celidônio