‘Arte é uma questão de equilíbrio’

fevereiro 20, 2024

Irene Jacob, estrela do clássico 'A dupla vida de Véronique', fala a Rodrigo Fonseca de sua aguardada volta ao set

Na última vez que esteve em solo carioca, para as filmagens de “Rio sex comedy” (2010), ao lado de Charlotte Rampling e Bill Pullman, Irène Jacob não fazia ideia de que, toda semana, em algum canal de TV brasileiro, aberto ou a cabo, “U.S. Marshals – Os Federais” (1998) é exibido. Ela é destaque no elenco, num par romântico com Wesley Snipes, em meio a muito tiro, porrada e bomba. É uma surpresa para a atriz franco-suíça de 57 anos saber, por este correspondente, que o interesse de televisões da América do Sul num trabalho tão pipoca de sua carreira no cinema segue firme e forte. Ela sorriu ao saber disso em meio a uma entrevista de promoção de “Shikun”, o novo longa-metragem do artesão autoral israelense Amos Gitai, que integra a grade da Berlinale .74.

– Quando uma pessoa opta pela carreira de atriz, de ator, nunca sabe onde vai parar ou com quem vai trabalhar. Fiz uma opção de me relacionar com meu trabalho, não como se fosse um projeto de carreira, mas, sim, uma experiência de vida – contou Irène ao NEW MAG, num auditório do hotel Adlon em Berlim, onde, na entrada, uma multidão fazia fila para esperar a chegada de outra estrela, Kristen Stewart. – Arte é uma questão de equilíbrio, de balanço, de buscar o que a gente acredita, contou a diva.

Eternizada em sua parceria com Krzysztof Kieslowski (1941-1996) em “A fraternidade é vermelha” (1994) e em “A dupla vida de Véronique” (1991), Irène passou os últimos 15 anos mais evidente no teatro do que na telona ou na TV. Por isso, “Shikun” é visto por muita gente como um regresso, um retorno em grande estilo. Seu desempenho é arrebatador. Sua trama tem base num diálogo com a peça “O rinoceronte” (1959), de Eugène Ionesco (1909-1994) papa do chamado Teatro do Absurdo.

A partir dela, Gitai, realizador dos cults “Kedma” (2002) e “Kadosh – Laços Sagrados” (1999), propõe a desconstrução das certezas políticas do Presente. A trama acompanha situações absurdas de 20 personagens num prédio israelense.

– Muitas vozes se misturam num filme que revela nossa solidão – diz a atriz, ciente de que foi um ato de coragem da Berlinale escolher um longa de Gitai em meio a um dos momentos mais violentos do histórico conflito entre Palestina e Israel. – Há um discurso sobre a força das mulheres que é uma tomada de posição importante para a luta feminina. É um filme de engajamento e também de apreço pela liberdade.

A Berlinale segue até o dia 25, sendo que o filme ganhador do Urso de Ouro será anunciado no sábado (24).

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