‘Sempre me interessei por personagens com mais de 60 anos’

fevereiro 18, 2024

O diretor Marcelo Botta leva brasilidade à Berlinale em‘Betânia’, como nos conta Rodrigo Fonseca

*por Rodrigo Fonseca

É noite de cinema brasileironas telas da Berlinale.74, representado pelas belezas naturais do Maranhão (e toda a diversidade de sua gente): “Betânia” estreia neste domingo (18) na maratona cinéfila da Alemanha. A direção é de Marcelo Botta, um paulista de São Carlos que já dirigiu “Furo MTV” e “Adnet ao Vivo”. Numa visita aos Lençóis Maranhenses, em meio a entrevistas para a série “Viajo logo existo”, o diretor se apaixonou pelo estado nordestino e idealizou um projeto lá chamado “Bramaica”, sobre o fascínio daquela região por reggae, a ser filmado numa ponte Brasil x Jamaica. Em meio à gestação desse filme, ainda não rodado, mas já em andamento, Botta filmou com elenco 100% maranhense a saga de uma mulher, a Dona Betânia do título, que, aos 65 anos, passa por uma mudança, depois de enviuvar. A pedido das filhas, ela vai viver perto das dunas e se reinventa. Diana Mattos é a protagonista do longa-metragem, que entrou na seção Panorama do Festival de Berlim. Na entrevista a seguir, Botta explica ao NEW MAG seu olhar sobre a “maranhensidade”.

A tônica da Berlinale deste ano é a relação de pessoas à beira dos 60 anos (ou mais velhas do que isso) com o tempo e com a vida. É o assunto de vários filmes exibidos no festival desde sua abertura, na quinta-feira passada, e é também um dos motes de “Betânia”, com sua protagonista de 65 anos às voltas com novidades. Que olhar você traz sobre a arte de saber envelhecer?

Sempre me interessei por personagens com mais de 60 anos. Se você olhar os registros dos meus aniversários, quando era menino, eu vou estar sempre do lado do meu avô. Sempre entendi essas pessoas como um poço de sabedoria. Eu fiz muita comédia na TV, até com a Tatá Werneck, dirigindo para a MTV e o Comedy Central. Mas sempre soube que o meu negócio era o drama. Era fazer rir e chorar numa mesma história. Durante a filmagem de uma série documental, para o Travel Box, me emocionei com histórias de pessoas que ouvi no Maranhão. Essa convivência me fez ver que uma pessoa de 60+ é jovem. Só que percebi que as pessoas mais maduras entram em outro processo coma vida. Pessoas que se aposentam passam a experimentar o tempo de outra forma

O que te atraiu no Maranhão e serviu de gênese para “Betânia”?

Eu já era encantado pelo reggae, que tocava sem parar na minha casa, num disco do Bob Marley. Fui fazer uma série lá, em 2018, e, ouvindo mulheres incríveis, como Dona Maria do Celso, fiquei encantado por aquele lugar, seu povo e sua cultura. Atravessei as dunas. Acabei voltando em 2019, em 2020 e em 2021. Fiz amigos em São Luiz, nos Lençóis, como essas tais mulheres que passei a admirar e estão no filme. É um filme com equipe majoritariamente do Maranhão e com elenco cem por cento maranhense.

Onde “Betânia” nasceu?

É um povoado de 250 habitantes em Santo Amaro do Maranhão. Quero que a partir dali, por meio do filme, as pessoas conheçam a força do tambor do Maranhão, do Bumba Meu Boi.

O Festival de Berlim termina no dia 25, sendo que, na véspera (24), serão conhecidos os títulos ganhadores do Urso de Ouro e dos Ursos de Prata, votados pelo júri chefiado pela atriz queniana Lupita Nyong’o.

*especial para o NEW MAG

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