‘A gente só se reconhece no outro’

janeiro 18, 2024

A jornalista Maria Fortuna abre com o pai, Perfeito Fortuna, série de entrevistas que comandará no Rio de Janeiro

Há uma máxima no jornalismo que estabelece que jornalista não é notícia. A regra cai por terra quando a personagem é Maria Fortuna. Num tempo em que o despreparo é a tônica nas entrevistas que pululam na TV e na web, a jornalista destaca-se pelo apuro das entrevistas que encantam os leitores de O Globo e que, volta e meia, estão na capa do caderno de cultura do referido jornal.

Com Maria não tem essa de jogar conversa fora – pelo contrário. O conteúdo de suas entrevistas é fruto do respeito a uma premissa básica na profissão: a de fazer bem feito o dever de casa. E Maria vai poder mostrar ao vivo o estilo que os assinantes do jornal já estão carecas (literalmente) de conhecer.

Ela vai apresentar “Conversas para iluminar o mundo”, série de entrevistas que, a partir da próxima terça (23) – e nas demais  – leva ao palco do Manouche, na Casa Camolese, no bairro do Jardim botânico, Zona Sul da cidade, conversas sobre o mundo de hoje e sobre as responsabilidades que temos com ele.

– São sobretudo conversas para nos inspirar e a outras pessoas, passando pela abordagem de como a arte pode nos ajudar a nos inspirar para, na prática, fazermos um novo mundo na Terra – explica a jornalista ao NEW MAG, realçando que há uma mudança em curso: – Aquele mundo velho não deu certo, ficou esquisito e já acabou. Então, qual a opção? A de fazermos um mundo melhor e deixar-nos afetar pelas coisas e pelo outro.

E o primeiro entrevistado de Maria é um “outro” que tem uma boa parcela de responsabilidade por ela ser a profissional que é: o agitador cultural Perfeito Fortuna, seu pai. Egresso do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revolucionou a cena teatral nos anos 1970, Perfeito é o idealizador de bem-sucedidos equipamentos que fazem parte da História Cultural do Rio de Janeiro. Dois exemplos são o Circo Voador – criado no Arpoador em 1982 e há décadas na Lapa – e a Fundição Progresso, também no bairro boêmio.

– São conversas para a gente se reconhecer um no outro e para falarmos também sobre o que nos une como seres humanos. A gente precisa às vezes afirmar-se no olhar do outro. Até porque a gente só se reconhece afirmando-se no outro. E eu acredito nisso – constata Maria, reconhecendo o peso da responsabilidade de entrevistar o próprio pai.

E o bate-papo tem tudo para repetir, desta vez de viva voz a fluidez que norteou a pauta preparada por ela quando seu pai completou 70 anos. O ano era 2020 e, em razão dos protocolos então necessários naquele primeiro ano de pandemia, Perfeito estava recluso e cauteloso. E Maria, mais uma vez, encantou com um texto carregado de afeto.

O afeto é, não por acaso, algo que a repórter coloca em prática no trato com seus personagens  – sejam eles grandes nomes ou pessoas simples. E isso é algo que ela coloca em prática também na vida:

– Nada melhor do que uma conversa regada a afeto para abordar o mundo de hoje. Afeto é uma palavra muito em voga, mas não consigo achar outra. É afeto sim. E o amor é o que pode mudar o mundo.

Que seja então o prenúncio de tempos melhores. E com mais Fortuna nas nossas vidas.

Crédito da imagem: Leo Martins

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