Numa certa manhã, em idos dos anos 1980, uma notícia de jornal chamou a atenção da cineasta Eunice Gutman. O texto dizia que moradores da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, impossibilitados de matricular seus filhos nas escolas, estavam, eles próprios construindo colégios. A diretora viu que ali havia pano para manga e lá foi ela atrás dos moradores. E, assim, nasceu o curta “A Rocinha tem histórias” (1985), que abocanhou prêmios nos festivais de Brasília e Gramado, os mais importantes da época.
– Sempre me interessei pelo que não era claramente dito. Tanto que meu primeiro filme (“E o mundo era maior do que a minha casa”, de 1976) era sobre uma mulher que aprendeu a ler aos 77 anos e descobriu que o mundo era bem maior do que a casa dela. Sempre me interessei pelos temas sociais – constata a diretora em entrevista ao NEW MAG.
Por sua dedicação aos temas sociais – em especial às questões relacionadas aos direitos das mulheres – Eunice será homenageada nesta terça-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Na ocasião, será aberta a mostra “Eunice Gutman pioneira e política”, que ocupa a Biblioteca Marialva Monteiro, no Espaço Cultural Cavídeo, nas Casas Casadas, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Eunice estudou cinema no Instituto Nacional de Artes do Espetáculo e das Técnicas de Difusão, mais conhecido como INSAS, em Bruxelas, Bélgica. De volta ao Brasil, um dos seus primeiros trabalhos foi no documentário “Os Doces Bárbaros”, de Jom Tob Azulay. O filme registra a turnê do show que reuniu, em 1976, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil. Eunice trabalhou no roteiro e, em seguida, na montagem do filme, lançado em fins dos anos 1970.
É nessa mesma época que ela começa a se interessar pelas questões relacionadas aos direitos das mulheres, num movimento que acabou conhecido como Feminismo.
– Foi quando descobri que o pessoal é político e achei que deveria falar também de mim mesma, da minha situação como mulher diante de um mundo que não era propriamente feito para nós. Daí, surgiram vários filmes sobre o tema – rememora Eunice que finaliza um longa sobre os direitos femininos com lançamento previsto para este ano.
Alguns filmes depois, a diretora reconhece que as mulheres conquistaram mais espaço dentro da sociedade:
– Interessante ver que esse assunto (feminismo) tem interessado às mulheres mais jovens. Tenho visto que nós, mulheres, conquistamos um espaço muito maior do que quando comecei a fazer os filmes. Isso me deixa muito contente.