A partir do show “Francisco”, com que quebrou jejum de dez anos longe dos palcos, Chico Buarque incorporou turnês à sua rotina artística. Alternando-se desde 1990 entre a música e a literatura, Chico volta à cena a cada novo álbum de inéditas. Os repertórios das apresentações mesclam, portanto, as novas canções às de sua rica trajetória, o que sempre propiciou deliciosas surpresas para o público.
Com o show “Que tal um samba?” aconteceu algo incomum na trajetória do artista. Como o show surgiu a partir do single homônimo, lançado em 2022, o artista teve mais liberdade – e abrangência – para revisitar e recriar o próprio cancioneiro. E, com isso, revela-nos um Brasil tão dele e tão nosso em “Que tal um samba? – Ao vivo” (Biscoito Fino), que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (24) e que sairá também em CD.
Se o show “Francisco” quebrou hiato de shows, uma vez que o último do compositor fora o apresentado juntamente com Maria Bethânia, em 1975, naquele mesmo Canecão (ô, saudade), “Que tal um samba marca outra efeméride: Chico volta a dividir o palco com uma cantora 48 anos após o histórico show com Bethânia. E a cantora, no caso, é Monica Salmaso, nome que conquistou o respeito de nossos maiores compositores e arranjadores, tais como Edu Lobo e Dori Caymmi. E a junção deu liga.
Chico volta ao palco cercado por grandes instrumentistas, que o acompanham desde seu retorno aos palcos. Estão lá o maestro e violonista Luiz Claudio Ramos, Jorge Helder (baixo), Marcelo Bernardes (sopros), Chico Batera (percussão), Bia Paes Leme, incorporada ao time a partir da turnê de “As cidades”, e a adesão mais recente: Jurim Moreira (bateria), a pessoa certa para substituir (e honrar) Wilson das Neves (1936-2017).
E, todos juntos, eles são fortes, flechas certeiras. E bico calado que o homem está aí. Chico Buarque é mais do que um artista brasileiro; uma voz cuja lira é capaz de animar todos os sons. Suas palavras e arroubos refletem as idiossincrasias de um país real e potente – um país de ontem, de hoje, de sempre.