A pandemia suspendeu as atividades culturais presenciais ao fazer com que os teatros fechassem suas portas. Nesse “apagão”, muitos artistas precisaram recorrer às suas reservas financeiras para sobreviver. A saída para produções que já vinham sendo ensaiadas foi migrar para o formato das lives, com os artistas se apresentando, muitas vezes, de dentro de suas casas. E os palcos ficaram vazios. Ou quase…
A atriz Sylvia Bandeira foi uma que nadou contra a corrente das impossibilidades e, com recursos próprios, produziu e estreou “Charles Aznavour – Um romance inventado”. Em cena, ela e o cantor e ator Maurício Baduh emprestam suas vozes ao cancioneiro imortalizado por Aznavour (1924-2018), nascido na Armênia e naturalizado francês. E são acompanhados ao vivo pela pianista e arranjadora Liliane Secco e pelo violino de Ulisses Nogueira. A montagem tem direção de Daniel Dias e estreou no Teatro das Artes, ocupando, em seguida, as quintas-feiras do Petra Gold, para onde volta em nova temporada, de 12 a 27 de março, agora aos sábados e domingos.
–Foi uma loucura produzir nesta época! A gente começou no Teatro das Artes, com recursos próprios. As pessoas estavam ainda com muito medo e esse começo foi muito difícil. Fomos surpreendidos com o convite do Petra Gold, onde, dois meses atrás, fizemos uma temporada pequena, só às quintas-feiras, e agora eles nos dão os sábados e os domingos. A coisa está funcionando! – comemora Sylvia em depoimento ao NEW MAG antes de começar sua aula de bridge (sim, o jogo de cartas).
A paixão pelo repertório de Aznavour é antiga e, há muito, que a cantriz queria homenagear o artista através de um projeto. A ideia começou a ganhar forma pouco antes da pandemia e Sylvia chama a atenção para a qualidade do texto, escrito pelo paraense Saulo Sisnando.
– Sempre tive paixão pelo Aznavour e quis prestar essa homenagem. Aí, entra o Saulo Sisnando, que é de Belém e que fez um texto ma-ra-vi-lho-so e muito criativo. Tenho comigo o Maurício Baduh, que tem uma voz linda. Na época da Marlene (o musical “Marlene Dietrich – As pernas do século”), eu cantava em vários idiomas e, agora, canto em francês e em inglês. Você sabe que não sou cantora, mas sou metida, né? – provoca a atriz chamando a atenção para sua ligação com o repertório apresentado: – Escolhi todas as músicas que cantamos em cena, mas não se trata de um musical. A peça leva você à música.