por Claudia Chaves*
Comandado pelo multiartista José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), o Teatro Oficina, ou simplesmente Oficina, como é comumente chamado, é a maior instituição de artes no Brasil. Desde a sua fundação em 1958, com a peça “A ponte”, de Carlos Queiroz Telles (1936-1993), se notabilizou pela capacidade de reunir todas as manifestações possíveis, teatro, dança, artes plásticas, música, tudo reunido para criar uma plataforma que inclui criatividade, inovação, crítica, muita, muita arte.
A primeira peça pela Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona, após a morte de Zé Celso, “O jogo do poder”, é a prova do tempo mítico, aquele do sobrenatural porque o tempo está eternamente começando, está sempre no início da divina criação. “O jogo do poder”, dirigido por Marcelo Drummond, viúvo de Zé Celso, é de Carlos Queiroz Telles, aquele autor da peça que inaugurou o Teatro. A produção é da FLO Arts de Fioravante Almeida, ator da companhia.
Escrita para quatro atores, um mosaico de 36 peças de Shakespeare, volta em uma montagem com 14 atores que se dividem pelos múltiplos personagens para tratar de todos os sentimentos que levam ao poder e a sua queda. A inveja, o ciúme, o orgulho, o ressentimento, a revolta, a intriga, o assassinato estão lá.
Marcelo transforma o texto teatral em um espetáculo em que estão presentes música, projeção, pintura, dança que tratam os temas com mais leveza pelos movimentos, canto, ironia e pela interpretação primorosa dos atores. O primeiro ato é composto pelos geniais diálogos originais de Shakespeare que mostram o confronto dos humanos. Já o segundo ato, são os solilóquios, a verbalização, na primeira pessoa, daquilo que se passa na consciência do personagem, quando cada um deles mostra o seu próprio fracasso. Aí acontece o ponto alto da peça: o discurso de Getúlio Vargas (1882-1954), na íntegra, que aponta para que 70 anos após, o Brasil continua com o mesmo esgarçamento social.
E como diz Gilberto Gil, “O jogo do poder”, a volta do Oficina é um momento histórico, simples resultado do desenvolvimento da ciência viva. Afirmação do homem normal, gradativa sobre o universo natural. Sei lá que mais.
*especial para o NEW MAG
Crédito das imagens: Eny Miranda