Há no meio teatral a máxima de que o maior elogio a um ator é o de ele não ser reconhecido num papel. E isso certamente está acontecendo com Sophie Charlotte. A máxima vale à atriz tanto pela Maíra de “Todas as flores”, novela de João Emanuel Carneiro exibida pela TV Globo após ser lançada no Globoplay, quanto para Gal Costa (1945-2022). Sim, a atriz vive a cantora em “Meu nome é Gal”, filme de Lô Politi e Dandara Ferreira. E seu desempenho em ambos os papéis é soberbo. “Preciso estar inteira a cada trabalho”, conta nesta entrevista ao NEW MAG, feita num tour de force* no Festival do Rio. A seguir, ela fala do encontro com Gal, de seu processo criativo, do sucesso de “Todas as flores”, do retorno ao set com Jorge Furtado e da volta à TV no remake de “Renascer”.
*com Rodrigo Fonseca
Qual a principal responsabilidade ao dar vida a um mito como Gal Costa?
Não congelar, não deixar o medo me impedir de viver o sonho. Meu maior aliado foi o tempo. Eu tive tempo de mergulhar nos fonogramas e em toda a iconografia da época antes mesmo do trabalho com o elenco. O encontro com esse material foi fundamental para a transformação no corpo e na voz. Estou lidando com meus ídolos, meus super-heróis. Tomara que vire uma franquia: um filme para o Gil, um para o Caetano e um para a Bethania.
E como foi seu encontro com a Gal?
Foi muito afetuoso e rico. Foi um caso em que a paixão e o estudo se misturaram.
Você ouviu pessoas que foram próximas a ela nos anos 1970. Lembro de te ver no velório do Jorge Salomão, por exemplo…
Fui à casa do Jorge em Santa Teresa e conversamos sobre fatos relacionados ao início dos anos 1970 e sobre o comportamento naquela época. Fiquei sentida com a morte dele. Passei uma tarde com ele e ficou uma marca dele em mim.
Numa das sequências, Gal retruca a uma repórter, interessada na sua vida pessoal, com a frase: “Meu negócio é cantar”. A julgar pela recepção a “O Rio do desejo”, seu longa anterior, seu negócio é cinema, não?
Pelos encontros que a gente trava, cinema é uma possibilidade de viver o sonho. Fazer cinema no Brasil é um ato de resistência.
Depois de mergulhar na vida e na obra da Gal você vai descansar ou já está envolvida com a preparação para Renascer?
Entro só na segunda fase de “Renascer”, mas já comecei a me preparar para a novela, uma vez que as gravações da segunda fase começam em janeiro. E, antes, filmo o novo longa do Jorge Furtado e da Yasmin Thainá.
Então, você volta ao cinema este ano. Como será o longa?
O nome é “Virgínia e Adelaide” e começamos a filmar em novembro. Uma das personagens é Adelaide Kohr, psicanalista judia que vem ao Brasil e funda a Sociedade Psicanalítica em São Paulo. Ela forma a Virginia Bicudo, socióloga negra que foi simplesmente a primeira psicanalista brasileira. O filme vai tratar desse encontro entre as duas.
“Todas as flores” é exibida agora na TV aberta e a audiência é um sucesso. Como está a receptividade do público à Maíra?
É muito gostoso ver tantas pessoas que não assistiram pelo Globoplay curtindo a novela, da mesma forma que outras pessoas estão assistindo pela segunda vez. Mesmo com um intervalo curto de tempo entre a exibição no streaming e a da TV aberta, o carinho do público está sendo lindo.
Desde a exibição de “Serra Pelada”, o Festival do Rio vem acolhendo suas estreias. De que forma o evento demarca a sua história nas telas?
Esse festival é peça fundamental para a cultura desta cidade, o que torna muito importante a minha presença nele, assim como nas prés do filme em outras cidades. Estou indo às exibições fazer um convite para as pessoas retornarem às salas de exibição.
Você é uma atriz que mergulha de cabeça em cada novo trabalho. Qual a sua principal meta ao iniciar um novo projeto?
Me divertir (risos)
E além de se divertir?
Essa é a primeira e a mais importante motivação para mim. Preciso estar inteira a cada trabalho e isso é muito importante para mim.
Crédito da imagem: Thereza Eugênia