“Gente! Aqui nasceu uma Bethânia!”. A frase foi proferida pela atriz e diretora Dandara Ferreira ao ver-se caracterizada como Maria Bethânia para o filme “Meu nome é Gal”, cinebiografia sobre os primeiros anos da carreira de Gal Costa (1945-2022), dirigida por Dandara em parceria com Lô Politi. O filme será exibido no Festival do Rio neste sábado (07) e chega às salas de cinema no dia 12.
O elenco já estava praticamente definido e faltava justamente a atriz que viveria Bethânia. A percepção para que Dandara poderia viver a cantora partiu de Chica Carelli, atriz e professora no Teatro Vila Velha, local onde Gal, Bethânia, Gil e Caetano apresentaram, em 1964, o hoje histórico show “Nós, por exemplo”.
– Nunca tinha me achado parecida com a Bethânia até que a Chica falou que eu deveria ser a Bethânia no filme, o que contou com total estímulo da Sophie (Charlote, que interpreta Gal) – comenta Dandara ao NEW MAG, revelando que teve receio em tomar a decisão: – No começo, tive medo, pois achei que não conseguiria conciliar o trabalho de diretora com o da atriz. Uma personagem com a grandeza que tem a Bethânia precisou de uma pesquisa profunda. E quando decidi interpretá-la, entrei totalmente de cabeça.
Pesquisando imagens da cantora na juventude, Dandara viu pontos de semelhança entre as duas. Um filme que serviu de norte para sua composição foi “Bethânia bem de perto”, realizado por Júlio Bressane e Lauro Escorel em 1966. Ela viu que o desafio poderia dar pano para manga ao mandar para seu pai uma foto da artista quando jovem. E, bingo!, o pai da diretora achou que a imagem era a da própria filha e não a da cantora.
– Peguei características de uma Bethânia moleca, brincalhona, de sorriso largo… Uma mulher muito apaixonada e muito intensa e, para mim, isso foi importante. Interpretar a Bethânia foi uma forma de homenagear também a Gal e a amizade entre elas – conta ela, ratificando sua percepção sobre a personagem: – Nunca pensei numa mimese, mas sobe esse olhar objetivo e externo, como é o do diretor.
E o trabalho da Dandara atriz acabou por auxiliar o trabalho da diretora – e vice-versa, como salienta ela:
– Os trabalhos são diferentes, mas complementares. Como eu estava também nesse lugar de diretora isso me ajudou muito no trabalho da atriz, em relação aos lugares aonde deveria chegar. E o trabalho da atriz ajudou muito o da diretora também.
Partiu da própria Gal o convite para Dandara dirigir o filme. A indicação da cantora não foi intuitiva, mas fundamentada por duas experiências artísticas divididas por elas: a primeira, um especial sobre Lupicínio Rodrigues (1914-1964). A partir deste, veio o documentário “O nome dela é Gal”, dirigido por Dandara e exibido pela HBO. Os projetos acabaram por consolidar uma amizade que durou dez anos:
– Tenho dificuldade de expressar meus sentimentos e, ao longo da nossa amizade, tive oportunidade de dizer a ela o quão importante ela era na minha vida.
Dandara estava numa reunião na casa da empresária Paula Lavigne e de Caetano Veloso quando teve uma das últimas conversas com a cantora. O bate-papo deu-se através de uma chamada de vídeo, da qual Caetano também participou e que acabou sendo a última conversa entre os dois grandes amigos.
– Existia a Gal artista, com aquela potência que a gente via no palco, muito diferente da Gal na sua intimidade, muito reservada e muito simples, o oposto da Gal artista – arremata.
E essas duas facetas poderão ser compartilhadas com o grande público neste que é, sem sombra de dúvida, a mais aguardada estreia cinematográfica do ano. Que Gal venha a todo o vapor!