Menina superpoderosa

outubro 1, 2023

A diretora basca Jaione Camborda leva a Concha de Ouro no 71º Festival de San Sebastián, conta Rodrigo Fonseca

por Rodrigo Fonseca*

Apesar de seu título gerar polêmica, ao sugerir um adultério, no jargão dos povos latinos da Europa e das Américas, “O corno” é um filme sobre o corpo feminino em luta contra a opressão do estado. E marca seu lugar de destaque nas telas com a conquista da Concha de Ouro de 2023. A diretora basca Jaione Camborda foi laureada no último sábado (30), ao fim do 71º Festival de San Sebastián, por um júri presidido pela cineasta francesa Claire Denis.

O filme consagrou a estética feminista da diretora, que rodou a trama em coprodução com Portugal, apoiada na força visual do fotógrafo luso Rui Poças. – É um olhar histórico sobre um mundo de opressão contra as mulheres no que diz respeito ao direito à gestação – conceitua Jaione ao NEW MAG.

Sua trama se ambienta em 1971, em meio ao jugo político do franquismo e aos anos finais do salazarismo. O roteiro narra a fuga de uma parteira que, ao ajudar uma jovem a dar cabo de uma gravidez não desejada, vira alvo da Lei. A fotografia é assinada por Poças (de “Alma viva”), que amplia a força estética da narrativa. do argumento, calcado num debate sobre o corpo da mulher. –  Colhemos relatos reais de mulheres para criar o argumento”, diz Jaione.

Ímã de gargalhadas entre os 16 concorrentes à Concha no evento, a comédia argentina “Puan”, sobre educação pública, feita em parceria com Brasil, rendeu a láurea de Melhor Roteiro para sua dupla de diretores, María Alché e Benjamín Naishtat. Seu protagonista, Marcelo Subiotto, conquistou a láurea de Melhor Atuação do festival, dada também (em empate técnico) ao japonês Tatsuo Fuji por “Great absence”. Já a láurea de Coadjuvante foi entregue a Hovik Keuchkorian, por “Un amor”.

Na categora Direção, a Concha de Prata foi para Taiwan, entregue a dois estreantes em longas: a realizadora Ping-Wen Ang e a seu colega Tzu-Hui Peng por “A journey In spring”. O Prêmio do Júri foi para a Escandinávia  dado a “Kalak”, da sueca Isabella Eklöf. O longa recebeu ainda a láurea de Melhor Fotografia, dada a  Nadim Carlsen.

Na mostra Horizontes Latinos, a herança marxista do cinema argentino se fez vencedora com a coroação do drama de tons sociais “El castilo”, de Martín Benchimol. Já a láurea de Júri Popular da mostra Perlak foi para “A sociedade da neve”, de J. A. Bayona, sobre a tragédia dos Andes de 1972, envolvendo a queda do avião da seleção uruguaia de rúgbi.

Em paralelo à premiação, San Sebastián exibiu o filme surpresa “O assassino”, de David Fincher, e fez uma sessão de gala de encerramento com  “Dance first” – cinebiografia do dramaturgo Samuel Beckett (1906-1989), com Gabriel Byrne.

*enviado especial ao Festival de San Sebastián

 

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