‘Minha vaidade é a falta de vaidade’

setembro 22, 2023

Murilo Benício fala do filme “Pérola”, dos sacrifícios para seus personagens e dos planos com a jornalista Cecília Malan

O público se acostumou a ver Murilo Benício brilhar na televisão. Considerado um dos melhores atores da sua geração, ele interpretou papéis que até hoje são lembrados como os gêmeos Lucas e Diogo da novela “O Clone”; o peão de rodeio Tião, de “América”, e o ex-craque Tufão de “Avenida Brasil”. Em 2018, assumiu a vertente de diretor de cinema. A nova adaptação de “O beijo no asfalto”, inspirada na peça de Nelson Rodrigues (1912-1980), foi o primeiro longa dirigido por Murilo. Ali, o menino que, aos 11 anos, saía de Niterói para estudar teatro no Rio, dirigiu Fernanda Montenegro e Stênio Garcia. Em 2023, o novo desafio: adaptar para o cinema “Pérola”, sucesso do dramaturgo Mauro Rasi (1949-2003). Em entrevista por telefone ao NEW MAG, Murilo fala do novo trabalho, relembra momentos de sua carreira e comenta ainda sobre seu relacionamento com a jornalista Cecília Malan.

Como foi a experiência de dirigir “Pérola”? Você se viu, em algum momento, na relação familiar de Pérola com os filhos?

Foi muito emocionante. Embora estivéssemos contando a história do Mauro, também tive a impressão de estar falando da minha família. Me vi em vários momentos, mas não exatamente em um diálogo ou no texto, e sim na emoção. Algo que é comum para todos nós é ter uma briga com a mãe. Lembro de ter brigado com a minha por algumas coisas, não necessariamente pelos motivos que fizeram o Mauro brigar com a dele. Recordo de ter uma frustração, de querer sair de casa. É nesse lugar que me reconheço. 

Você e Drica Moraes contracenaram na novela “Chocolate com pimenta”. Como foi girar a chave e agora dirigi-la em um filme?

Na novela não tínhamos muitas cenas juntos. Era uma pena porque sempre fui fã da Drica. Acompanho o trabalho dela há muito tempo, desde quando ela fazia parte da Cia. dos Atores. Sempre via as peças deles. A Drica é uma pessoa que logo cedo veio na minha cabeça para fazer “Pérola”, mais porque sou fã dela do que por qualquer outra coisa. Por mais que já tenha feito trabalhos com ela… Você sabe o que eu já fiz com a Drica que agora que lembrei e ninguém sabe? Fizemos o piloto de “Os normais”, uma gravação para ver se a série daria certo. Eu e ela fizemos uma participação como um casal. Rui e Vani já eram feitos pelo Luiz Fernando e pela Fernanda Torres. Foi bem legal. 

Você já viveu um alter ego do Mauro Rasi no teatro. O que levou você a revisitar o universo do dramaturgo?

Fiz esse filme pelo Mauro. “Pérola” nasceu em 1995, foi um marco para o teatro na época. Estava iniciando minha carreira de ator, fui convidado por ele para fazer “As tias de Mauro Rasi”, que também fez sucesso mas nada comparado à “Pérola”. Ainda não tinha assistido à peça, e o Mauro me chamou. A única coisa que lembro é que, depois da sessão, saímos para jantar e falei para ele que “Pérola” deveria ser um filme. Ele deveria filmar aquela história, muito impactante para mim. De uma certa forma, isso nunca saiu da minha cabeça. 

Você vai se dedicar mais à direção no cinema ou pretende enveredar pela direção na TV?

Tenho o privilégio de não ser só diretor. O que faço é muito autoral e, na televisão, a direção é dividida. Não sei se conseguiria estar nesse processo. A menos que precisasse, todo diretor precisa trabalhar, mas sou ator antes de mais nada. Já tenho um novo projeto para o cinema e o piloto de uma série que estou desenvolvendo, mas ainda não posso anunciar nada. 

No início da carreira, você viveu Juca Cipó, no remake de “Irmãos coragem”. Você até serrou um de seus dentes para o papel. Qual sacrifício faria por um personagem? 

Acabei de raspar a cabeça para “Justiça 2”. Vi até algumas mulheres comentando que deve ter sido um ato de muita coragem eu raspar a cabeça, mas para mim foi algo natural, achei até engraçado. Depois fui perceber o quanto é importante o cabelo para uma mulher. Minha vaidade para atuar é a falta de vaidade. Não vejo como algo ousado, é a minha maneira de compor o personagem. E cada ator compõe da sua forma. O (argentino) Ricardo Darín, por exemplo, não faz nada de visual para seus personagens e está ali sempre maravilhoso, com a sinceridade dele. 

Como é para você ver seu filho Antônio também seguindo carreira nas artes? Primeiro como ator e agora participando como roteirista de “Pérola”. 

Antônio está escrevendo agora com a Anna Lee o roteiro do meu novo filme. Chamei a Anna para escrever o roteiro, mas ela estava sem tempo e me pediu para que achasse uma pessoa para a consultoria da obra. Na mesma hora veio o Antônio à minha cabeça. Ele fez esse trabalho de consultoria, ela se encantou com ele e agora estão escrevendo juntos. Nossa profissão é tão instável, sempre que posso tento ajudar. Claro, nada de graça, sei que ele tem talento para fazer isso. É um orgulho enorme para mim. 

Você atualmente namora a jornalista Cecília Malan. Quais os prós e contras de um relacionamento à distância?

O contra é que é distante, o pró também (risos). Ficamos distantes, é chato, às vezes por três meses longe, mas sempre estamos com saudades um do outro. É difícil manter isso em um relacionamento durante muito tempo, e estamos ainda nesse lugar. Isso é o que a gente tira de positivo dessa distância. 

Pensam futuramente em se casar?

Por enquanto não. Ela leva uma vida lá muito concreta, tem uma filha pequena. Casar ainda está muito longe da nossa realidade. Do jeito que está, está muito bom. 

Crédito da imagem: divulgação

Posts recentes

Palco em páginas

Isabel Fillardis estreia como escritora com o lançamento da sua autobiografia

Um doce para o olhar

Exposição do fotógrafo Slim Aarons chega a São Paulo com imagens de momentos da vida da alta sociedade dos anos 1960 e 1970

Despedida difícil

Morre Mario Sérgio Celidônio, filho do aclamado chef José Hugo Celidônio