Regina Martelli é papisa no quesito elegância. Durante o tempo em que foi editora de moda da TV Globo, coube a ela banir a sisudez nos figurinos dos jornalistas, sem abrir mão da sobriedade necessária a quem exerce a função, uma vez que o foco nunca deve ser desviado da notícia. Procurada por NEW MAG, a hoje consultora de moda comentou a foto na qual Jair Bolsonaro é visto de torso nu num calendário lançado para promover a figura do hoje ex-presidente. Afinal, a imagem fere o decoro necessário mesmo àqueles que não mais exercem o cargo de líder máximo da nação?
– A questão não é somente a de ferir o decoro, pois este já foi ferido há muito tempo pelas atitudes do então presidente nos seus quatro anos de governo, mas a imagem é um acinte também à estética – opina a jornalista, destacando um item que não pode ser esquecido: – Existe a liturgia do cargo, termo muito popularizado pelo José Sarney quando presidiu o país. Com a foto, Bolsonaro comprova que não segue essa liturgia e que não tem mesmo credenciais para exercer o cargo de chefe supremo da nação.
Martelli pondera também sobre a conotação que a imagem poderia ter uma vez que mostra a cicatriz no torso do ex-presidente, resquício da facada da qual o então candidato foi vítima num ato de campanha em 2018.
– A foto poderia até ter uma conotação inclusiva por mostrar a cicatriz de uma violência sofrida. Se era essa a intenção, ela foi feita de maneira errada. Não é uma cicatriz que atrairá apoiadores para ele, mas as ideias que ele defende. A intenção foi péssima, e a imagem mostra que falta ali senso do ridículo – arremata a consultora.