Locarno rende-se ao voo de Martinelli

agosto 5, 2023

O diretor Leonardo Martinelli fala de seu novo filme com Rodrigo Fonseca, nosso enviado ao Festival de Locarno

por Rodrigo Fonseca*

ASCONA, SUÍÇA – Cineastas do Brasil de projeção internacional como Glauber Rocha (1939-1981), Hector Babenco (1946-2016), Juliana Rojas, Marco Dutra, André Novais Oliveira, Ana Vaz, Julio Bressane e Julia Murat tiveram seus filmes apreciados e muitas vezes premiados nas telas de Locarno, um dos sete mais importantes festivais do mundo (ao lado de Cannes, Veneza, Berlim, Toronto, San Sebastián e Roterdã), que opera numa cidade de 16 mil habitantes. Uma cidade que incha de turistas e de profissionais da indústria do audiovisual nos dez dias de sua maratona de filmes e debates. Um brasileiro que, nos últimos anos, passou a ser “de casa” no evento suíço é o diretor carioca Leonardo Martinelli. Premiado na seção Pardo di Domani, em 2021, com “Fantasma neon”, ele volta para a mesma mostra este ano com “Pássaro memória”. Nessa nova empreitada nas telas, uma jovem (Ayla Gabriela) se embrenha pelo Rio de Janeiro em busca de uma ave de estimação que se perdeu. Na entrevista a seguir, Martinelli explica ao NEW MAG como encara a força das narrativas musicais.

De que maneira esta sua segunda passagem por um festival europeu do porte de Locarno muda a sua carreira?

Passar pelo Festival de Locarno em 2021 mudou a direção da minha carreira. Por Locarno ser um festival focado não somente em cinema de vanguarda, mas também em descobrir e investir em novos talentos, tive a oportunidade de conseguir mais recursos e espaços para minhas realizações. Depois de ser premiado com “Fantasma Neon” em 2021, conseguimos realizar um curta em coprodução com o Reino Unido, financiado pelo British Film Institute. Esse meu novo curta, “Pássaro memória”, estreia no Festival de Locarno de 2023, e no Festival de Gramado no Brasil.

De que forma Pássaro Memória dialoga com a tradição do musical já explorada por você em Fantasma neon?

Ao abraçarmos o desafio de abordar problemas contemporâneos por meio do musical, nosso objetivo é oferecer ao público uma investigação sobre como as formalidades desse gênero têm a capacidade de tensionar as questões sociais apresentadas. Enquanto a era de ouro do cinema musical hollywoodiano promovia a meritocracia no subtexto dos deleites visuais e sonoros, buscamos usar o musical como uma forma de revolta, que expresse uma insatisfação com a vigência desse sistema, assim como suas heranças coloniais indiretas nos espaços da cidade.

Que longa está por vir?

Está por vir um longa no mesmo universo do curta “Fantasma neon”, homônimo a ele, que explora a jornada de um entregador de aplicativo do Rio de Janeiro, por meio do cinema musical. É uma fantasia musical que confronta os sonhos e esperanças dos jovens com a dura realidade de salários inadequados, clientes pouco empáticos e constantes ameaças que os cercam. O filme pensará sobre a desigualdade no trabalho contemporâneo e o custo de lutar por uma vida decente.

*Enviado especial do NEW MAG a Locarno

A atriz Ayla Gabriela numa cena de “Pássaro memória”
O diretor Leonardo Martinelli na plateia a céu aberto no Festival de Locarno, na Suíça

 

MAIS LIDAS

Posts recentes

Notórios… sabores

Concorrentes à premiação aos 50 melhores restaurantes da América Latina são festejados no Rio de Janeiro