Coragem é uma palavra que norteia a vida e a carreira de Zélia Duncan. A compositora é aquele tipo de artista que faz e canta o que quer, quando quer. Isso se dá desde o início dos anos 1990, quando o timbre inconfundível da cantora foi amplificado pelo sucesso de “Catedral”. E isso fica evidente no seu novo show, “Sem tirar os olhos do mundo”, apresentado no Rio de Janeiro, na noite da última quarta-feira (02), abrindo os festejos pelo aniversário de 7 anos do Teatro Riachuelo, no Centro da cidade.
O roteiro do show é costurado pelas canções do mais recente álbum da artista, “Pelespírito”, gestado nos primeiros anos da pandemia, e “Sortimento”, que ganhou edição em vinil em razão dos seus 20 anos. E os dois trabalhos, separados por duas décadas, conversam (e muito), num roteiro em que a relação da artista com o tempo e com a própria vida dão as tônicas.
A estreia carioca do show foi prestigiada por artistas que são seus companheiros de geração e que, em muitos casos, tornaram-se também parceiros e, o melhor, amigos. São os casos de Paulinho Moska – que juntou-se recentemente a Zélia num show antológico –, Lenine, Pedro Luis e Ana Costa. A vereadora e viúva de Marielle Franco (1979-2018), Mônica Benício, que homenageou a artista com a Medalha Chiquinha Gonzaga, também prestigiou a estreia.
Muitos dos amigos que estavam presentes foram saudados pela artista do palco – e também os que não estão mais por aqui. Foi o caso da atriz Claudia Jimenez (1958-2022), a quem a cantora dedicou “Vou gritar seu nome”:
– Quero dedicar essa música a uma amiga, que estaria aqui sentadinha na primeira fila e que teria enviado um buquê de flores, que estaria no meu camarim, como ela fazia a cada estreia. Essa amiga era Claudia Jimenez.
A cantora também se permitiu uma provocação política e amplamente aplaudida pelo público. Depois de cantar “Tudo passa”, não resistiu ao comentário: “Sim, tudo passa. E alguns tornam-se inelegíveis”.
Num país onde o público tem por hábito ir a shows para ouvir sucessos, a hit maker Zélia Duncan sobe ao palco para defender canções inseridas num contexto que tem a ver com o mundo de hoje, a vida de hoje. E, assim, desnudada da pele, ela revela seu espírito inquieto e pulsante. Bom seria se outros artistas também ousassem assim.
Crédito das imagens: Pedro Ivo Oliveira e Laura Frogoso (Lenine)