Há uma máxima no jornalismo que diz que de nada adianta tentar calar um jornalista porque sua voz há de reverberar em outras. O jornalista Daniel Camargos é uma prova de que a pensata faz mesmo sentido. Ele teve a oportunidade de trabalhar na Amazônia e de acompanhar de perto o trabalho do jornalista britânico Dom Phillips, brutalmente assassinado, juntamente com o indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari (AM), em junho de 2022.
Camargos não se calou, pelo contrário. Ele transformou sua revolta em relato, ou melhor: relatos. E o resultado é “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia”, filme dirigido por ele juntamente com Ana Aranha com produção da Repórter Brasil. A produção será lançada neste sábado (22), na Cinemateca de São Paulo numa ação promovida entre o Pulitzer Center e a instituição.
– O encontro com a morte do amigo, a busca por sentido para a profissão de repórter e a tentativa de dar continuidade ao trabalho do Dom, são passos que dou ao longo do documentário – explica o diretor.
A iniciativa acaba por jogar luz sobre a árdua tarefa da cobertura jornalística naquela que é a maior floresta tropical do planeta. Após ouvir (e sofrer com) os relatos sobre a morte do amigo e colega de profissão, que teve ainda o corpo esquartejado, Camargos perguntou-se se valeria a pena ir adiante.
A resposta foi positiva, o que não significa que tenha sido fácil a decisão. A equipe ganhou o reforço dos diretores de fotografia Fernando Martinho e Caio Castor, do montador Pedro Watanabe, e o projeto foi ganhando corpo e voz. A do próprio Camargos, que narra a história na primeira pessoa – e ninguém melhor do que ele para tanto.
– Fazer esse documentário foi muito doloroso, sem dúvida, mas também foi fundamental para encontrar o sentido de ser repórter – arremata Camargos.
Sim, de nada adiantou a tentativa de calar Dom Phillips. Sua voz está aí. E seu legado também.