Zélia Duncan estava em casa, afastada dos amigos em razão dos cuidados sanitários que se faziam (ainda) necessários em tempos (ainda) pandêmicos, quando começaram a nascer novas canções. Um novo álbum foi ganhando alma e corpo. Em 2022, o repertório de “Pelespírito” foi apresentado num show, em São Paulo, com o público ainda de máscaras e transmissão ao vivo pelo Arte1. Como certos cuidados ainda eram necessários, a cantora e compositora estava acompanhada por apenas dois músicos que, juntos, apresentaram o repertório num formato acústico.
Esperas fazem parte da vida e Zélia Duncan sabe o valor que elas têm – e também seu público. A artista e ele se (re)encontram para degustarem do que ela guardou sob a pelespírito. E, sob este manto, há um sortimento de coisas. Zélia não estava em casa quando um invólucro grande chegou. Era “Sortimento”, editado em vinil para celebrar os 20 anos do álbum.
Sim, esperas fazem parte da vida e valem a pena. E Zélia volta aos palcos tendo muito o que comemorar: seus 40 anos de carreira, os 20 do seu “Sortimento” e a chegada às plataformas de show de 1997. E as novas canções estarão misturadas a sucessos no show “Sem tirar os olhos do mundo”, que ela apresenta neste fim de semana no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, chegando ao Rio de Janeiro em agosto.
– Convocar minha banda foi o passo pra fora de casa, o passo adiante, trazendo as canções para outros possíveis contextos e descobertas. E foi nesse foco que, ao receber o vinil comemorativo de “Sortimento”, comecei a entender as pontes entre um e outro: o mais recente e o que comemora duas décadas – explica Zélia, que depois de arrematar os músicos, chamou a diretora de arte Simone Mina incrementar seus já sortidos planos.
Elas já haviam trabalhado juntas no memorável “Totateando”, no qual Zélia foi dirigida por Regina Braga, e nos espetáculos “Tudo esclarecido”, “Antes do mundo acabar” e “Tudo é um”. O reencontro em nada tem a ver com mais do mesmo, pelo contrário, como entrega a cantora:
– Estaremos revendo, na verdade, todas as canções, porque vão se mostrar com outros invólucros musicais. Relidas, religadas e refrescadas com novas ideias.
E, no caso de Zélia, as ideias são sortidas. Não por acaso ela se transforma em (tantas) outras sem, contudo, descuidar da matriz que traz sob a pelespírito.