“Não sou bom, sou ótimo. O que é o mínimo”

março 31, 2023

Homem de muitos talentos e mais ainda de reflexões, Michel Melamed fala sobre o espetáculo "Los Hermanos - Musical pré-fabricado", a vida como influencer, o casamento com Letícia Colin e o amor pelo filho, Uri

Ele é “O” pai do Uri. Que fique bem claro que esse é seu título mais importante, mas Michel Melamed também é marido da atriz Letícia Colin, diretor, ator, poeta, escritor, apresentador… e, ao menos até o momento em que você começou a ler esta entrevista, digital influencer. Talvez amanhã ele já tenha abandonado as redes sociais. Porque a inquietante e excitante busca pelo diferente, ou pelo espanto, como ele define, aditiva o seu combustível. Inclusive, no dia anterior a esta conversa com NEW MAG, a própria Letícia o avisou que ele vai cansar. Pode ser, ou não, como diria um de seus maiores ídolos, Caetano Veloso (ou não novamente, haja vista que eventualmente o próprio Caetano nega usar a expressão). Mas se a vida de influenciador pode ser célere, a paixão pela banda Los Hermanos é imutável e o levou a novos lugares. Melamed dirige seu primeiro espetáculo musical, “Los Hermanos – Musical pré-fabricado”, em cartaz no Teatro Casa Grande, Rio. “Marcante e importante neste instante, porque marcante e importante sempre. Então por isso, montar um espetáculo a partir das canções deles: elas tocam no século passado, na próxima década, são cantadas por pretos, brancos, LGBTQIA+… A obra deles pertence a vários mundos, tempos, espaços… inclusive pertence a esse exato segundo da minha vida”, disse o poeta, entrementes, entre selfies.  

Lembra quando se apaixonou pela banda? 

Ôoooo Annaaaaaa Júúúúúliaaaaaaa… depois ouvi tudo mil vezes e então de trás pra frente e os trabalhos solo… Amo a música, adoro eles, a figura deles, a maneira que conduziram a carreira, se colocam publicamente, o que representam, enfim… são inspiração pra um dos belos mundos para um artista estar, quer dizer, bater pé com a sua visão de mundo, não entregar de bandeja, acreditar com educação. Aquela coisa toda que não foi inventada ontem, mas que é muito difícil de executar e mais ainda de dar certo. 

Você atua, dirige, faz curadoria, produz… qual o segredo pra ser bom em tantas vertentes? 

Obrigado pelas palavras mais que gentis. Mas eu não sou bom, eu sou ótimo. Ou melhor ainda, parafraseando Mae West. O que é o mínimo. Já o Caetano é f*… E, agora pra mim, são dois, o Veloso e o D’Tuani Sterblitch (referindo-se ao filho de seus grandes amigos Louise D’Tuani e Eduardo Sterblitch). Sempre me interessei por diferentes expressões artísticas e acredito que o olhar renovado de quem passa de uma linguagem pra outra, o estrangeiro, a ovelha fora do rebanho, tem, per si, contribuição pra dar. Curioso é que comecei a carreira assim e na época era malvisto pacas, quem faz muito não sabe nada, aquela coisa tola contrapondo horizontalidade e verticalidade, querendo verdades únicas. Depois apareceu o “multimídia”, meio boutade, e, por fim, não é que chegamos ao oposto? Quem só faz uma coisa hoje é de mal gosto. Mas há certa preguiça na busca por conhecimento. O extraordinário segue sendo extraordinário. E talvez isso seja o que diferencie, ainda, um artista do influenciador. O problema é se o artista também for o último espectador. 

Você disse que não entendia a egotrip das redes sociais, mas lançando esse espetáculo entendeu a importância. Como tem sido sua relação com as redes? 

Eu não entendia as redes. Achava chato porque é muita coisa comum, simplória e boba. E adoro originalidade, espanto. Então achava as selfies egotrip. Isso nos últimos três anos, quando até postei pra caramba pra varrermos o nazismo do país. Vencemos. Daí lanço um trabalho no teatro e percebo que o canal, hoje, pra falar com quem tá interessado em você são as redes e eu tava por fora. Voltei. Mas realmente me chocou não ter entendido que o mundo tinha mudado tanto. Eu sabia, mas a grande “ficha da Laerte” (charge publicada em 2013) não tinha batucado no meu coco. Gente que não conheço com tantos seguidores. Outro dia o Charly Braun me mandou um vídeo de um americano falando “Quem são os Rolling Stones? Olha os seguidores que eles têm…”. O cara tinha mil vezes mais e pra ele esse é o parâmetro – por isso o “em tese” ali de cima. Qual é o parâmetro? Se for mais seguidores e vender mais, derrubem as pirâmides do Egito. No “Regurgitofagia”, meu primeiro espetáculo, tinha algo como “amanhã surgirá uma nova banda chamada Beatles”. Por ora: eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder fazer teatro. 

Curiosamente foi você quem avisou, via Instagram, que havia nascido o filho do Sterblitch… 

Fizemos a foto e eles falaram “posta aí”. Imagino que sabendo do meu novo propósito, do bilhão de seguidores. Gentileza dos amigos. Três eu já tenho. Talvez seja o suficiente. 

Raramente posta fotos do seu filho. Acha importante poupá-lo da exposição? 

Sim, acho um pouco deselegante com ele, tão pequeno, ficar aparecendo ali sem saber, fico tímido. Ao bem da verdade tímido até pra postar as minhas coisas. Mas não há saída: esse é o mundo em que vivemos. Então até deselegância, pouca, estou arriscando. Mas lotado de amor. Como escreveu Rubem Braga: “Ele é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.

Como está a vida de pai? 

Uri é a coisa mais importante da minha vida desde antes de eu nascer. 

Você e Letícia estão juntos há sete anos. Existe a famosa crise dos 7 na sua casa? 

Existe a crise das 7 horas. Crise é o tempo todo com tudo. Vivemos inadequados, passando mal, questionando a gente, a gente junto, o trabalho, o Brasil, o mundo…. Só o capítulo Brasil já é crise pra casamento que não falta. Mas seguimos. Reafirmando de 7 em 7 minutos que queremos estar juntos. 

Você nunca para. Quais os próximos projetos? 

Muito obrigado, adoraria ser esse que nunca para. Mas não é verdade, paro bastante, demais pro meu gosto. Queria ser mais Porchat, Falabella… Mas não sei se é o tipo de trabalho que faço ou a maneira como faço, então tem um tempo que demora pra rolar, sair dinheiro, condições pro espaço ser criativo, permitir acabamento, etc. Tudo bem, com o tempo aprendo a lidar melhor com o tempo. Mas hei de um dia nunca pararei. Então eu paro. Ah, estou escrevendo um monólogo pra Letícia. E escrevi uma série. E hoje já postei cinco vezes! 

Crédito de foto: André Mantelli

 

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