Era o ano de 1998 quando Waly Salomão (1943-2003) lançou “Lábia”, no Rio de Janeiro. A fila para os autógrafos seguia seu curso quando, o receber um exemplar para assinar, avistou, no fim da fila, um conhecido. Animado, fez ao amigo distante a dedicatória no livro que lhe fora entregue. Os exemplares foram trocados, e o tal amigo, liberado de esperar na fila por seu autógrafo.
O episódio tem um quê de anedótico, mas é revelador sobre o quão intenso era o poeta e autor de clássicos como “Vapor barato”. Waly era intenso na vida e natural que sua euforia resvalasse por sua escrita. E é justo esse autor tão vívido que se faz presente na antologia “Jet lag – Poemas para viagem”, a primeira do autor editada pela Cia das Letras.
A coletânea foi organizada pelo poeta e artista visual Omar Salomão, filho de Waly, que teve um texto seu, feito aos 14 anos, inserido em “Lábia”, o livro do episódio supracitado. Agora, 25 anos depois de estrear na literatura sob as bênçãos do pai, ele esmiúça a poesia de Waly nesta que é a segunda antologia dedicada ao autor. “Jet lag” chega às livrarias no dia 06 de fevereiro com um charme a mais: é ilustrado com monotipias por Luiz Zerbini, um dos mais instigantes artistas visuais surgidos nos anos 1980.
“Perambule agarrado ou desgarrado perambule”, aconselha Waly em um dos versos de “Tarifa de embarque”. O poeta seguiu, muitas vezes, ele mesmo, o próprio conselho, e, agora, é a vez de o leitor seguir as picadas abertas pelo poeta sob o risco de perder-se nelas – coisa que Waly adoraria.