Ali pelos anos 1990, uma gíria começou a ganhar vulto. A expressão era “pagar mico”. Surgida entre adolescentes, era usada para designar quando o comportamento de um deles beirava o ridículo, expondo em situações vexatórias a si e, muitas vezes, aos demais. Não tardou para o termo cair nas bocas e ser adotada também por adultos.
Nunca entendi bem o porquê de um primata diminuto e simpático ser associado a algo constrangedor. Se o “mico” era de grandes proporções, era chamado de “gorila”. Em alguns casos, virava um King Kong. NEW MAG elencou, neste fim de ano, os mais elegantes e belos nos quesitos feminino e masculino. Hoje, a proposta é outra… Trazemos (tcharan!) o Mico do Ano!
A tarefa de escolher os mais elegantes e belos foi, como já dito, árdua. A do Mico não foi exatamente difícil, apesar dos incontáveis exemplos que pululam no noticiário político, cultural e social. Vimos, por exemplo, aquela influenciadora que adora uma farofa (e não falo aqui do acompanhamento), o padre de festa junina, sem falar naquele reality que, além de reunir fortes candidatos ao título, é, por ele mesmo, um mico. Apesar do sortimento de ofertas, um nome foi unânime: Jair Messias Bolsonaro.
Só o fato de, na tarde da última sexta-feira (30), ter picado a mula sem cumprir o protocolo de passar a faixa presidencial ao sucessor já faz de Bolsonaro merecedor ido título de Mico do Ano. Mas não… O capitão demonstrou muitas outras razões que o fazem merecedor.
No seu último ano de mandato, o bom senso recomendaria encerrar o expediente com dignidade. Mas o estadista deu lugar ao candidato à reeleição e, a partir de então, os brasileiros passaram a assistir a uma comédia de erros turbinada com toques de pastelão. E o pior: sem graça alguma.
Sem sequer ter sido convidado, compareceu ao funeral da Rainha Elizabeth II e, lá, deu vazão a seu proselitismo de araque. O mesmo se repetiu na Assembleia Geral da ONU, onde apresentou dados que em nada condiziam com a realidade brasileira. À Cop 27, no Egito, importante conferência mundial sobre Meio Ambiente, ele não foi, claro. Para alguém que já usou a expressão “porra da árvore”, mudanças climáticas devem arrancar dele bocejos.
Certamente o mais constrangedor dos atos ocorreu num 7 de Setembro. No lugar de uma fala cívica, colocou a multidão, num gesto misógino, para repetir em coro a palavra “imbrochável”. A primeira-dama e as demais autoridades presentes levaram na esportiva. O que será mesmo masculinidade tóxica?
Ainda no âmbito Eleições 2022, revelados os resultados do 1º turno, um Bolsonaro confiante apareceu na TV declarando que o jogo iria diante. De tão confiante, desdenhou das perguntas de veículos importantes da imprensa. “Deve ser da Folha”, repudiou ao ouvir a pergunta de um repórter. Ao saber que se tratava de um profissional de “O Globo”, foi além: “pior ainda”.
Na noite do segundo turno, tudo mudou. Bolsonaro fechou-se em copas e sequer parabenizou o adversário pela vitória. Era uma obrigação? Não, mas um gesto protocolar colocado em prática desde a eleição de 1989 – a primeira após a retomada da Democracia no Brasil.
O silêncio do capitão fomentou atos de vandalismo, o fechamento de estradas federais e levou apoiadores a acamparem diante de quartéis pedindo pela volta de intervenção militar. No seu aguardado – e demorado – pronunciamento, passou de leve pelos atos.
O sujeito que se dizia “imbrochável” negou fogo e vazou. Fugiu como um Dom João VI `as avessas. Se o nobre monarca trocou Portugal pelo Brasil fugindo do exército francês, criou, por aqui, instituições como a Biblioteca Nacional e o Jardim Botânico. O mesmo não pode ser dito sobre Bolsonaro. Até porque livros e botânica não são a sua praia.
Dom João e Bolsonaro fugiram para salvarem as próprias peles. O regente português quis preservar sua coroa e não perder a cabeça. Esta, Bolsonaro perdeu faz tempo.
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