“Parte da minha jornada fotografando esteve ligada à beleza, e à construção de imagens belas. Em determinado momento, me cansei desta fotografia como linguagem”. E ninguém melhor do que Jairo Goldflus, fotógrafo singular, para falar sobre seu ofício. Não à toa, “Singular” é o título do seu novo livro, no qual retrata 130 mulheres, entre famosas e anônimas, sem um pingo de maquiagens ou retoques. Um dos belos rostos vistos de cara limpa é o da ex-modelo e atriz Ana Paula Arósio, para quem o tempo só fez bem.
– A Ana Paula é a minha amiga. Eu estava fazendo o projeto e sabia que ela estava no Brasil cuidando de coisas pessoais dela. Liguei e disse que era legal que ela participasse. Numa tarde, conversamos, ela fez a foto e voltou tranquilamente para a Inglaterra. Ana Paula é muito objetiva, se gosta da história, vai lá e faz. Não há grandes produções, o trabalho envolve duas pessoas: o fotógrafo e o fotografado, sempre. É tudo muito pessoal e são todas minhas amigas – observa o profissional.
Sim, Jairo tem o privilégio de ter como amigas algumas das mulheres mais belas do país. São beldades como Fernanda Lima, Carol Castro e Maria Fernanda Cândido. A ideia para o livro surgiu, contudo, de um nome desconhecido pelo grande público, mas muito querido pelo fotógrafo: a filha Manuela, de 16 anos:
– Quando comecei a observá-la, reparei que, praticamente, ela não saia do quarto sem estar maquiada. Além dela, comecei a observar suas amigas e comecei esse estudo. As meninas estão sendo educadas a criarem avatares delas mesmas e, de certa forma, a internet e os filtros criam esses avatares fazendo com que elas achem que a imagem da internet é mais importante do que aquilo que elas são de verdade.
Tal comportamento não está somente associado à juventude. As mulheres maduras também se apegam aos mesmos truques, como percebeu o fotógrafo:
– Das meninas mais jovens, fui às mais velhas que, além da maquiagem, fazem intervenções com excessos de botox, preenchimentos e se tornam padronizadas. Daí, pensei em tentar fazer algo bacana para manifestar, de alguma maneira, que o belo ainda é belo e não é preciso tantos truques.
Nesses tempos de tantos filtros e artifícios para retoques, a mulher só se observa de cara lavada no aconchego do lar e não num estúdio fotográfico. Por isso, a surpresa foi uma reação recorrente na maioria das fotografadas.
– Ao fazer o convite, a reação era de estranheza. Já no estúdio, elas se sentem à vontade e nem percebiam que já estavam sendo fotografadas. Quando elas se olham no monitor, se surpreendem e dizem coisas como: “Nossa, já faz muito tempo que não me vejo assim”. Acho gratificante esse reencontro que tenho com a imagem da pessoa que ela realmente é – celebra Goldflus.
Crédito da foto: Jairo Goldflus e reprodução