‘A dificuldade está com os novos artistas’

novembro 30, 2022

O produtor musical Rick Bonadio fala sobre a influência do streaming na forma de fazer música

Rick Bonadio já assinou a produção de nomes de peso como o fenômeno Mamonas Assassinas, além de  Charlie Brown Jr, Los Hermanos, e, mais recentemente, Vitor Kley. Vale lembrar o seu trabalho como jurado do programa “Popstars”, do SBT, que revelou as bandas Rouge e Br’oz. Na última segunda-feira (28), Rick comentou em uma rede social sobre como as plataformas de streaming estão mudando a forma de produzir música, o que pode ser prejudicial à qualidade e a divulgação de novos artistas. O produtor falou ao NEW MAG sobre como vê a questão. 

Canções como “Construção” (1971), de Chico Buarque, e “Faroeste caboclo” (1987), da Legião Urbana, que possuem, respectivamente, seis e nove minutos de duração, poderiam ser consideradas inadequadas para o lançamento de um single que não chega a três minutos nos dias atuais. Bonadio explica se é proposital que as músicas estejam ficando mais curtas.

– Eu acho que alguns estilos sim. De um modo geral, a música pop e aquela que depende das plataformas de streaming estão sim ficando mais curtas, fazendo com que os artistas acabem se moldando às necessidades do mercado – afirma o produtor.

Com relação à preferência dos ouvintes atuais entre consumir algo mais imediatista ou mais elaborado em termos de instrumentos e letra, Bonadio acredita que é algo relativo:

– Acho que sempre teve um público de todos os tipos, e também temos os momentos. Temos o público para o momento da música mais boba, imediatista e fútil, como também para o momento da música mais cabeça e mais trabalhada. O que eu acho é que as plataformas não equilibram a mostra que diferencia os estilos e estão mais focadas nas playlists de destaque e naquelas que têm mais plays, que, no final das contas, é o que vai render mais dinheiro para os acionistas e para os donos da companhia. Não acho que isso seja um problema de quem trabalha na plataforma, isso é algo estrutural que vem de cima e é muito prejudicial à qualidade da nossa música – analisa.

Diante das mudanças do mercado, o produtor acredita que o desafio maior não é para o artista que já está consolidado, mas para aquele que quer mostrar o seu trabalho e garantir um lugar ao sol.

– Os artistas consolidados podem se manter se continuarem fazendo um repertório bom que atenda ao público. A grande dificuldade está com os novos artistas que não têm espaço para se mostrarem. Não existe uma preocupação das plataformas em mostrar artistas novos. No começo, até existiram alguns projetos que investiam para que esses caras tivessem uma carreira, mas isso tudo acabou. Hoje, o foco é sempre para aqueles que dão mais cliques. Com isso, sobram poucos meios de se divulgar, como aquela coisa do show, de construir uma história em um mercado pequeno e, assim, começar a ganhar algum destaque, ou conseguindo um apelo nas redes sociais. Se bem que eu também não acredito que as redes estejam interessadas em mostrar muito a música, estão mais preocupadas com as imagens – arremata.

Crédito da foto: Reprodução

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