Nada melhor do que a arte para nos fazer repensar falas que podem ferir os outros. Os atores Carmo Dalla Vecchia, Dani Ornellas e David Junior propõem a urgente reflexão sobre o racismo estrutural no espetáculo “12 anos ou a memória da queda”. Inspirada no livro “12 anos de escravidão” de Solomon Northup (1808-1863), a peça estreou na última quarta-feira (16), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, sob a direção de Onisajé e Tatiana Tiburcio.
– Reconstruímos essa história a partir da compreensão atual de quem é esse sujeito negro e o que significa essa liberdade pra ele. Ainda vivemos processos de escravização de diversas formas, no interior do nosso país, e de formas sutis, mas muito bem compreendidas por quem os sofre. É preciso revisitar essa história e reconstruí-la a partir de um olhar feminino, negro, matriarcal e onírico – afirma Tatiana.
O texto original conta a história de um homem negro que, após aceitar trabalho que o leva a outra cidade, é sequestrado e escravizado por 12 anos. A ideia de levar o clássico para o teatro partiu do ator, diretor e empreendedor Felipe Heráclito Lima, ao se deparar com uma pesquisa sobre trabalhadores em regime análogo à escravidão em fazendas na Ilha de Marajó (PA).
– Estar em cena nesta peça é muito profundo, porque traz histórias muito próximas a situações que eu vivencio como mulher preta e artista brasileira. Como minha personagem diz em cena, “Sou eu, mesmo quando eu não estou lá. É você, mesmo quando você não está lá” – conta Dani Ornelas, que está de volta ao teatro, onde começou a carreira há 27 anos.
Crédito das fotos: Cristina Granato